Se eu escrevesse ao senhor de forma menos grosseira, mui digníssimo sugador do sangue alheio, certamente este texto despertaria apenas gestuais de enfado em suas ridículas ventosas porque palavras delicadas e civilizadas são incompatíveis com sua natureza parasitária.
De sorte que violarei meu estilo na tentativa de tornar estas linhas mais interessantes para o senhor.
Sr. animal de sangue frio e aguilhões quentes: está gostando do introdutório? Ótimo. Continuemos, então.
O sr. e mais alguns dos seus colegas parasitas despertam-me ânsias de vômito e meus instintos mais primitivos.
Tenho sonhado com botinas esmagando sem dó nem piedade todos vocês, animais viscosos, enlodados, purulentos, e a pasta nojenta que daí se origina transforma-se num passe de mágica em líquido inebriante, em Chanel nº 5 da cidadania e do orgulho pela pátria.
Às vezes me surpreendo pensando em vodu, e como gostaria de acreditar nisso!
Se, e se tivesse tempo, ficaria a gastá-lo espetando uma agulha nos mais diversos orifícios e reentrâncias dos bonequinhos engravatados, cujos modelos vivos se tratam mutuamente por vossas excelências.
Ao findar o ritual, invadindo em mim uma onda de gozo e bem-estar, dignaria-me a um pouco de condescendência e cravaria o espeto nos corações dos corpos estrebuchantes para aliviar-lhes o martírio, veja quanta benevolência!
A propósito, verme, qual o tamanho da sua peçonha? Quero dizer, quantas ambulâncias o sr. afanou daqueles pobres coitados que estão morrendo nos corredores hospitalares e quantas toneladas de medicamentos foram necessários para serem diluídos no cimento que sustenta sua mansão cinematográfica com lagos artificiais e peixes naturais?
Quantos galões de líquido medular dos brasileiros à míngua o sr. usa como combustível do seu jatinho particular cuja privada limpa o seu ânus sem carecer papel?
Quantos milhões de dólares oriundos da dor e do desespero dos sem terra, dos sem alimento, dos sem teto, dos sem segurança, sem emprego e sem esperança o sr. guarda nos paraísos fiscais?
Ah, ah, ah, mais uma vez, não? Espere, segure o orgasmo, ainda não acabou!
O povo chora, enquanto o sr. gargalha, acendendo charutos com notas de R$ 100 na taverna de finíssimas bebidas cuja composição têm as lágrimas das crianças sem leite e os estômagos colados às costas.
O povo chora de agonia, de arrependimento, de fome, de medo, de incredulidade, de desespero.
O sr. ignora que é um ser rastejante e ri como as quadrúpedes hienas, incapaz de saber o que são lágrimas, muito natural nos vermes despossuídos de fossas lacrimais.
A Casa em que saltita com a inconsequência das crianças e minera sem esforço o dinheiro do povo, já foi antes um lugar de respeito e de culto à brasilidade, lugar que o sr. está transformando na casa de mãe Joana porque sua algaravia é mais tonitruante que as roucas vozes dos outros moradores de lá que, como eu, também repudiam o sr. e seus colegas rastejantes.
Sr. latrinário. Estou chegando ao fim, para sua tristeza. Que pena não é?
Nunca o sr. gargalhou tanto, tenho certeza. Foi realmente um texto para desopilar seu fígado.
E para finalizar mesmo, vai uma última nota, mas creio que esta não vai agradá-lo: já lhe ocorreu que o povo, hospedeiro de verme engravatado poderá descobrir um vermicida potente e usá-lo um dia, sanguessuga asquerosa, repugnante?
Aí, gargalharemos nós!
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em julho/2006