Há uns cinco anos eu retornava de Itaperuna num ônibus da Empresa Brasil em horário de pico. Como eu o havia tomado na Estação Rodoviária, consegui um lugar sentado.
Logo na saída daquela cidade, o coletivo encheu, muitas pessoas em pé. Na altura do cruzamento de Bom Jesus, entrou uma idosa com uma acompanhante jovem. Incontinenti, cedi à senhora o meu lugar (hoje não sei se o faria, sabe..., essas primaveras que teimam correr de forma alucinada já me fazem objeto e não agente da distinção!).
Assim que levantei, a moça arregalou os olhos, colocou a mão na boca num gesto instintivo de surpresa, esforçando-se para acreditar no que estava presenciando.
Cá comigo, eu pensava em tempos um tanto, mas nem tão remotos, em que era impensável e absolutamente censurável uma pessoa mais jovem, sadia, não ceder seu lugar a uma mais idosa, a uma grávida, a alguém com criança de colo, a um portador de necessidades especiais, outrora simplesmente chamado de deficiente físico.
A gentileza, lhaneza, amabilidade em todos os aspectos das relações humanas, antes predominantes, são hoje, exceção. O egoísmo exacerbado da era em que vivemos é, a meu ver, a pior mazela da humanidade.
Schopenhauer dizia que "todos sentem dor, mas ninguém sente a ausência da dor". Egoísmo, narcisismo, arrogância são frutos dessa incapacidade de sentir a ausência, o que faz a dor, quando vier, ser mais intensa. Daí porque digo que este comportamento é a pior mazela, porque vem de encontro ao próprio ser insensível.
A charge do Júnior Lima retrata bem esse comportamento, principalmente por parte da juventude, que é a que mais não sente a ausência da dor.
Numa cidadezinha das redondezas, eu percebia a soberba entranhada em tantos aspectos do cotidiano, que até fiz um texto bota-fora de meu repúdio, de maneira bem-humorada. Leiam aqui e pensem se não é sua cidade que está retratada.
Autor: José Henrique Vaillant