É um fator humano dos mais desprezíveis que existe desde que o mundo é mundo, mas que na contemporaneidade parece ter alcançado um grau astronômico:
A rejeição, a ojeriza ao trabalho digno como forma primordial de subsistência, que vem potencializar a incrível onda de violência que nos assola.
Não é um fenômeno exclusivamente brasileiro, é bom ressaltar, muito embora o historiador e sociólogo Paulo Prado já demonstrasse há muito tempo certo pessimismo sobre nossa formação.
No seu best-seller "Retrato do Brasil" ele imprimiu conclusões desanimadoras sobre a fusão das três raças, que Olavo Bilac chamou de "Três raças tristes".
Prado viu na luxúria e na cobiça dos portugueses, na incultura dos negros, na preguiça dos índios e na indolência dos mulatos, fatores negativos irremovíveis na história de nossa formação, todos de consequências graves para o futuro.
Não há a presunção de querer apresentar aqui um tratado sobre a preguiça como fator que gera a violência, mas é forte a percepção de que ela ocupa um papel coadjuvante num contexto incrível de desmandos políticos, onde a corrupção que grassa nos mais graduados centros de poder parece ser o ator principal nesse palco de horrores porque realça a malandragem como sinônimo de prosperidade.
A falta de emprego, oriunda da corrupção que estagna o país é a mãe da ociosidade e o álibi perfeito para os que não gostam de trabalhar, exista trabalho ou não.
Nessa inversão de valores que vem de cima para baixo devastando dignidades, adjetivos como desocupação, inação, preguiça, indolência, moleza passaram a ser características primordiais de quem está na crista da onda, que num passado nem tão distante significava ter um emprego, ter um lar, uma família.
O cidadão contemporâneo que tem apreço pelo trabalho, que cumpre horários, valoriza a disciplina, é um bobão que trafega na via inversa da modernidade.
O assistencialismo criminoso de governos populistas e demagógicos é o mel do ócio, mas a garantia do continuísmo desse establishment político que pelo visto não vai mudar com Lula.
Tomando Bom Jesus do Norte como exemplo dessa apatia que acomete significativa parcela da população brasileira, parece não haver dúvidas que a vadiagem exerce papel importante na ilicitude.
Não pode emergir nada de produtivo, nada edificante em bandos de desocupados nos botequins e nas ruas em dias e horários úteis.
É excruciante perceber o vício e a devassidão que acometem boa parcela da juventude com seus cabelos amarelos, ostentando piercings e balangandãs que emolduram mentes moles e corações duros.
Vinte e quatro por cento dos jovens brasileiros rechaçam a ideia de que podem melhorar o mundo ou suas próprias vidas, segundo pesquisas recentes.
Não enxergam impactos econômicos, sociais ou ambientais em suas ações. O índice é considerado altíssimo para o padrão médio mundial.
Longe do pecado da generalização, a cultura da malandragem marcou seu espaço a ferro e fogo no ventre da sociedade.
Prova disso é a dificuldade de se encontrar quem queira realmente trabalhar, na verdadeira acepção do verbo.
Hoje em dia, oferecer uma tarefa remunerada em contrapartida a quem pede uma caridade sujeita o benfeitor ao constrangimento da recusa, porque vivemos num país em que o paternalismo dá o bujão de gás e o peixe, mas a desfaçatez política não propicia formas dignas para a aquisição do comburente nem ensina a pescar.
A violência é a canalização de todas as mazelas culturais e políticas.
Está aí o tal do Big Brother, que retrata bem nossos valores de hoje: ficar de bunda para cima cultuando o egocentrismo, a traição e a frivolidade é tão importante que chega a valer meio milhão de reais a quem melhor os faz.
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em março/2003