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24 de fev. de 2013

Ler no banheiro

Já tentei parar de fumar umas 10 vezes, uma das quais estava tão convicto ter conseguido que, após seis meses sem acender um maldito, fiz um texto bota-fora denominado "Livrei-me da maldição", que se revelou tempos depois uma melancólica fraude aos 11 componentes do meu leitorado. 

Mas hei de perseverar, pois a desgraça do cigarro justifica o pleonasmo.

Também sou viciado em café, tomo em média uma garrafa, das grandes, por dia. 



Graças a Deus (se me é facultado dar graças) que os vícios maléficos são só estes dois, muito embora pesquisas apontem que tomar café regularmente reduz o risco de câncer no estômago.

Em compensação..., ah, amável leitor, graciosa leitora..., tenho o vício de ler! 



Qualquer coisa serve, não sou exigente. Comparecer à privada sem os óculos..., nenhuma chance de bom desempenho da atividade-fim, cujo mecanismo só trabalha em associação com os olhos, criaram simbiose. 


Às vezes, num banheiro estranho, serve jornal velho e até bula de remédio. 

Certa vez, na falta de algo mais útil, me surpreendi com a carteira nas mãos "lendo" os meus documentos. 

Nunca mais esqueci os números do CPF e da identidade.

Minha estante localiza-se estrategicamente bem ao lado da porta da toalete (vamos mesclar uma palavrinha perfumada a este papo escatológico...). 

E aproveitando, lembro que o Aurélio nos ensina que neste caso é a toalete mesmo, feminina, que quer dizer 'compartimento com lavatório e espelho, que em geral tem um gabinete sanitário'. O toalete masculinão é o 'ato de se aprontar, de se pentear', etc.

Encorajei-me a contar-lhes esse meu hábito porque, eu já desconfiava, não é incomum. 


E quem sabe assim agindo eu estimule vocês a fazerem o mesmo, principalmente você que tem pouco tempo para o delicioso exercício da leitura.

Aliás, não só da leitura, mas da cantoria, que no entanto são atividades que exigem exclusividade de espaço, uma não prejudica a outra. 


Pelo menos não tenho conhecimento de alguém que cante no vaso e leia no chuveiro.

Vejam só como ler no banheiro é uma prática mais corriqueira do que se pensa. 


Vi na Internet outro dia que em algumas cidades europeias já é comum, em banheiros de estabelecimentos públicos, o tal do Loo Read, um artefato que enrola jornais nas paredes dos bathrooms

O freguês senta-se  no ´trono´ e puxa o jornal, que depois de lido é novamente enrolado automaticamente à espera do próximo usuário.

Se um dia você se utilizar de um destes artefatos, aceite um conselho: lave bem as mãos após interagir com o que entra nos dois olhos e o que sai pelo terceiro (huuuum..., temo que esta tenha sido de mau gosto!).

Os japoneses foram além. Povo culto que só, e sem tempo que só, criaram o papel higiênico literário, com livros inteiros impressos. 


Já pensou? Nem é mais preciso correr-se o risco de molhar o livro ou o notebook. Acredito que funcione assim: cada sentador de trono desenrola o papel (certamente rolos individuais), que deve ser reutilizado na outra tarefa (a sórdida), no tamanho da sua velocidade de leitura e tempo.

Ou seja: se alguém entrar para aquela leiturinha básica e for ruim em ler de carreirinha, vai ter de usar trechos não-lidos do livro ou sair sujo, entenderam? (huuummmm..., temo que esta tenha sido pior!).

Se você souber de um destes traduzido, me informe. 


Combinado?

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em novembro/2007