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7 de mar. de 2013

Só os narizes não crescem; ou, político mentiroso é redundância; ou, velhas raposas em pele de novos cordeiros

"Se todo mundo conhecesse a intimidade de todo mundo, ninguém cumprimentaria ninguém."  

Essa é uma das muitas frases pitorescas que ajudaram a consolidar a reputação do saudoso Nelson Rodrigues como o mais polêmico dramaturgo e intelectual contemporâneo que já habitou esta terra, e não deixa de ter lá as suas razões. 

Interessante é a capacidade humana de dissimular. 



Pergunte-se seriamente a alguém sobre seus defeitos e suas virtudes. Ninguém se autointitulará de mau, pervertido, corrupto, arrogante, mentiroso. 

Arranca-se no máximo uma confissão de ciumento, exigente, temperamental e outros adjetivos mais palatáveis. 


Mesmo as virtudes são expostas de forma calculadamente dissimulada, de modo a realçar de forma sutil a modéstia e a humildade, sentidos considerados politicamente corretos. 

Não sou diferente, vale ressaltar a quem já esteja nesta altura franzindo o cenho e julgando-me um refinado hipócrita, um sonso desenxabido. 


Mas em verdade lhe digo: sou ao menos consciente de também portar tal falha primaz do arcabouço comportamental  da espécie, o que inibe a exacerbação delas.


Seguindo a tendência, a temporada de caça aos votos é a desenvoltura da mentira elevada à mais alta potência. 

Claro que não se pode desejar que de repente comece a se dizer a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade. 

Mas este senso pernicioso se sofisticou e se personificou tanto na grande maioria dos políticos, que um e outro se tornaram indissociáveis. 


Como conseguem se eleger? 


- Pelo senso latente e irresistível de amor ao Brasil e aos brasileiros, dizem sempre eles. 

Alguém acredita?

Em sua caminhada evolutiva, o homem entendeu que a verdade não cai bem. Nos mínimos detalhes está lá a impostura, a falsidade. 


- Como vai você?  


- Bem, obrigado.


Nem sempre as coisas estão boas e nem sempre o perguntador está realmente preocupado com 
sua ´ida´. 


Mas os candidatos, que têm solução para tudo, extrapolam e mentem na maior caradura. 


Estão constantemente acabando com a pobreza, com a violência, com o desemprego, com a seca do Nordeste. 

Prometem amplas reformas e há quem se intitule capaz até de derrubar a lei da gravidade... 


Mas como essas mazelas são teimosas! 

A verdade é que a mentira predomina nas relações humanas e está sacralizada na política. 


Nas próximas eleições estarão eles novamente com aquele ar angelical, as velhas raposas em pele de novíssimos cordeiros. 

A fortuna que é gasta nas campanhas sai obrigatoriamente de algum lugar. 


Ingenuidade acreditar que um financista investe o rico capital por amor à pátria, ou que o candidato promova sua campanha às próprias expensas por altruísmo. 

É a cascata novamente em proporções colossais, para daqui a quatro anos se fortificar nas mesmíssimas moléstias que definham hoje os brasileiros.


E vamos nós ao 6 de outubro legitimar mais uma vez a mentira. 


Que tenhamos sorte em escolher o menos mentiroso. 

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em setembro/2002