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7 de mar. de 2013

Anjos trucidados. Assassinar crianças é o mais selvagem instinto do mais selvagem homo sapiens

Estou sem ânimo para falar de selvageria. Ela nunca acabará, é da gênese humana. 

As convenções sociais e as religiões é que a desativaram gradativamente na maior parte dos seres pensantes, mas desgraçadamente não lograram fazê-lo numa  minoria  marginal. 

Mefistófeles explica o porquê.


Não sou favorável, em linhas gerais, à pena de morte. Acho que ninguém tem o direito de tirar a vida de ninguém, muito menos num país em que as leis se dizem iguais para todos, mas não é bem assim na prática. 


Os foros privilegiados e as feras do Direito com suas filigranas jurídicas afiadas sempre farão pender a

balança para o lado de quem desfruta poder e dinheiro.

Todavia, determinados crimes despertam em mim mais que simpatia com esta ideia. 


É o caso, por exemplo, da morte da menina Isabela Nardoni, de 5 anos, esganada e jogada do 6º andar de um prédio da capital paulista na noite de 29/3 por seu próprio pai, estimulado pela madrasta da menina. 

Aí, amável leitor, graciosa leitora, surpreendo-me evocando mentalmente castrações sem anestesia; 


Seres pendurados em ganchos fincados nos peitos à moda "Um homem chamado cavalo''; 

Serpentes vivas sendo enfiadas goela adentro; 

Aparadores de charutos "aparando" dedos de mãos e de pés; 

Rostos lavados com soda cáustica; 



Anus no lugar da boca e boca no lugar do ânus, essas coisas.


É doloroso demais lembrar a imagem enternecedora, angelical, ingênua e pura de Isabela e de tantos outros mártires infanto-juvenis que tiveram brutalmente negado o direito à vida justamente nos momentos em que ela, a vida, propiciava tanto fulgor e encantamento.

Seres humanos que teriam de ser protegidos, orientados, amados, respeitados, muito mais por serem crianças, símbolos e instrumentos do futuro, do aperfeiçoamento da raça. 


E de dor em dor vai-me esgotando o conforto vernacular. 


As palavras não conseguem mais mostrar com exatidão a plenitude do sentimento de horror e repulsa. São tantas recordações tenebrosas... 

Com 9 para 10 anos de idade já me horrorizava com a "fera da Penha", megera carioca que em 1964 ateou fogo numa garotinha de 4 anos por ciúmes do pai da menina, despejando naquele pequeno ser frágil e desprotegido toda a malignidade de uma mente doentia, absurdamente violenta e vingativa.


O Caso "Zé do Rádio" (*), acontecido aqui mesmo em Bom Jesus ... 

Tantos outros... Mais recentemente a dantesca morte do garotinho João Hélio, 6 anos, arrastado em 7/2/07 por um carro conduzido por marginais...; 

O incêndio de um ônibus em 29/11/05 por traficantes, quando morreram vários passageiros carbonizados, entre eles a menina Vitória, 2 anos, e sua mãe...; 


A tortura inacreditavelmente variada numa garota de 12 anos, mantida  em  cárcere  privado...;  


Adolescente presa  em  cela masculina tornando-se escrava sexual de um grupo de detentos...;

Mães que deixam bebês jogados em portarias de prédios, depositados em lixeiras, lançados em lagoas...; 


A menina que pulou do 4º andar  para fugir do pai violento..., etc, etc, etc.

Há poucos anos uma reportagem da TV mostrava a história de um menino de 10 anos, morto por overdose de crack. 


Impossível conter o choro convulsivo ao vir o olhar de sua pobre mãe fito no nada. 

Anestesiado pelo estupor do assombro, peguei do teclado e me aliviei um pouco através da composição deste soneto, que intitulei CRACK:


Titubeante o rapazinho chega ao lar,
Numa agonia de causar horror profundo,
Desaba ao chão agonizante, cruel mundo,
Se regozija da inocência emboscar.

Embarga a voz da mãe aflita a contemplar,
O filho amado, imensa dor calando fundo.
Num urro louco que ecoa num segundo,
Ao desatino o leva ao colo pra ninar.

Aquelas pedras no caminho condenado,
Em breve a joia seria do degredado,
E a mortalha dessa mãe, final dos planos.

O tenro infante ao exalar o extremo alento,
A mãe pungida roga aos Céus, em vão, lamento:
Piedade, Senhor. Meu bebê tem só dez anos!

Compor um para Isabela, no entanto, é como disse: falta-me ânimo, os dicionários não me ajudam mais como antes, tudo está tão banalizado..., o sofrimento, a angústia, a morte. 

Então peço licença a Manuel Bandeira para dedicar seu soneto RENÚNCIA a todos os que sofrem a perda de tão melindroso ser da forma torpe e brutal como foi e tem sido (mais uma! Em breve outra, e outra...).


"Chora de manso e no íntimo... procura,
Curtir sem queixa o mal que te crucia:
O mundo é sem piedade e até riria
Da tua inconsolável amargura.

Só a dor enobrece, e é grande, e é pura.
Aprende a amá-la, que a amarás um dia.
Então ela será tua alegria,
E será, ela só, tua ventura...

A vida é vã como a sombra que passa...
Sofre sereno e de alma sobranceira,
Sem um grito sequer, tua desgraça.

Encerra em ti tua tristeza inteira.
E peça humildemente a Deus que a faça
Tua doce e constante companheira...".

(*) Em 1977 a população bom-jesuense ficou chocada pelo premeditado e cruel assassinato do menino Serginho, 11 anos, pelo próprio tio da criança. 

José Pereira Borges, vulgo Zé do Rádio, sequestrou o menino para exigir resgate, matou-o a pancadas, amarrou o corpo com fios de arame e o ensacou jogando-o no Rio Itabapoana preso a um pedregulho de aproximadamente 35 quilos. 


Chegou a simular solidariedade, participando do enterro do garoto, quando foi preso por investigadores que localizaram pertences da vítima em sua oficina de consertos. 


A brutalidade consternou os bom-jesuenses durante muitos anos, e até hoje se fala do sujeito tresloucado e covarde.


Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em abril/2008