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18 de mar. de 2013

"Tudo é relativo. Até mesmo a relatividade do Relativismo" - Roberto Campos

Lá se vai o 2º milênio! E cá estamos com o privilégio de transpormos a linha em direção ao 3º!

O que levamos na bagagem? Será a nossa entrada carregada de triunfo ou pisaremos o tapete com os pés manchados de desdouros?

Citando Roberto Campos (foto), "tudo é relativo. Até mesmo a relatividade do Relativismo".


Desde a conquista de um avançado nível da Ciência e da Tecnologia, ao espoucar de tiros e clarões de mísseis a denunciar nosso primitivismo, e por conseguinte uma grandessíssima incoerência, tudo parece efetivamente relativo.

Indicadores científicos levam a supor que em breve estaremos em condições de instalar barraquinhas em feiras-livres para a comercialização de órgãos do corpo humano. 


Um coração zero km, um fígado virginal para conduzi-lo ao encantamento dos primeiros teores de álcool, um pênis de tamanho e circunferência a gosto, até transplante de cabeça, que certamente poderá sair de fábrica com um narizinho aquilino, pomos salientes e par de olhos na tonalidade que se desejar já povoa a mente frenética dos cientistas.

Em contraponto a este nível estonteante de conhecimento que o homem vem alcançando estão suas mazelas, que em ritmo diretamente proporcional crescem vertiginosamente.



Na ânsia hedonista da satisfação material a qualquer custo, o ser humano esquece de cultivar os bons instintos, robustecer o espírito e exercitar a solidariedade, o que torna aqueles adventos mais parecidos com peças de reposição de robôs. 


Ingressaremos no 3º milênio falando em tempo real com nosso semelhante a milhões de quilômetros - por intermédio de um aparelhinho que pesa 100 gramas ou em frente a uma telinha de uma polegada -, mas vizinhos de quintal ainda se matando pela falta de comunicação que objetivasse reverter o ódio ferocíssimo oriundo das contendas religiosas, territoriais e políticas;

Conduziremos seres vivos clonados, fruto da mais avançada tecnologia, mas sujeitos a padecerem de tantos males (alguns tão prosaicos como um resfriado; outros tão insidiosos como o câncer e a AIDS), que tudo se torna obscuro,  incompreensível. 


Como dar a vida se não se pode mantê-la com boa qualidade?

Em Terra Brasilis, a grande massa manipulada será conduzida ao século 21 por sua péssima classe dirigente com uma das rendas per capita mais iníquas e ridículas do Planeta e um padrão social calamitoso. 


Os pastores do rebanho, no entanto, saudarão o novo Milênio com as bochechas coradas pela dolce vita e a demagogia mais esmerada do que nunca, fazendo caras e bocas pelo paroxismo da generosidade em conceder R$ 30 de reajuste no salário miserável, suficiente para preservar a força de um dedo para teclar uma urna, que é só no que pensam.


Saudações ao novo Milênio; é uma lisonja  ser a nossa civilização a pioneira em conhecê-lo. 


Se o faremos honrosamente ou não é controverso porque relativo. Depende do ponto de vista de cada um.

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em dezembro/2000