No meu caso, quase a receber a chancela cinco ponto zero, dizem que tenho a pressão sanguínea e outros indicadores nos trinques, coisa e tal, não obstante o crescimento exagerado para os lados, um piripaque aqui, outro acolá.
Mas está claro que é um exagero de boa vontade dos facultativos porque pelo menos minha temperatura média não deve estar legal, eis que ando tendo a impressão quase rotineira de que estou com a cabeça num forno e os pés num freezer.
Abstrações e lapsos de memória, que já me acompanhavam timidamente na primeira-idade resolveram que já é tempo de galgarem posições de comando agora na segunda, chega de acanhamento.
Alguns de vocês já devem ter acendido um cigarro pelo filtro, ou pelo menos presenciado alguém fazê-lo. Mas dois num único dia eu duvido.
Ligar para alguém trocando os números, já aconteceu? Três vezes consecutivas foi o meu recorde.
A mente ordenava que eu teclasse, vamos dizer, 1460 e os dedos respondiam 1406. Na terceira vez o interlocutor, muito compreensivo e gentil sugeriu que eu deixasse um lembrete perto do telefone com os dizeres - não inverter os números. Algum tempo depois eu lia e me perguntava: - que números?
Já ocorreu a algum de vocês estacionar o carro e esquecer onde? Comigo sempre acontece.
Já ocorreu a algum de vocês estacionar o carro e esquecer onde? Comigo sempre acontece.
Prefiro estacionar na Praça Gov. Portela, mas dia desses deixei-o em frente ao Varejão I. Quase fui à delegacia prestar queixa de furto, com o coração na mão, convicto de que o teria perdido.
Até já pensava em como dar a notícia para a financeira, ao mesmo tempo em que bolava um título para a matéria que faria em seguida, algo como "Jornalista vira notícia" ou "Senhores larápios, cuidado com o superaquecimento", até que lembrei da minha displicência e comecei a procurá-lo melhor, tomando como ponto de partida para a garimpagem às cegas o Shopping Point 200.
A vantagem dos avoados são as viagens que fazem por mares pouco dantes navegados sem a necessidade de queimar um bagulho.
Até já pensava em como dar a notícia para a financeira, ao mesmo tempo em que bolava um título para a matéria que faria em seguida, algo como "Jornalista vira notícia" ou "Senhores larápios, cuidado com o superaquecimento", até que lembrei da minha displicência e comecei a procurá-lo melhor, tomando como ponto de partida para a garimpagem às cegas o Shopping Point 200.
A vantagem dos avoados são as viagens que fazem por mares pouco dantes navegados sem a necessidade de queimar um bagulho.
Eu viajo muito. Foi o caso por exemplo que talvez estivesse certa feita virtualmente no Glacial Antártico, ao mesmo tempo em que fazia uma fezinha na lotérica de Bom Jesus do Norte.
Ao sair da loja, pairando em convivência com as gaivotas, fui em direção ao “meu” carro no outro lado da rua onde, juro, o havia deixado em frente ao açougue.
Ao sair da loja, pairando em convivência com as gaivotas, fui em direção ao “meu” carro no outro lado da rua onde, juro, o havia deixado em frente ao açougue.
Estranhamente a chave não entrava na fechadura de jeito e maneira, compreensível porque o automóvel não era o meu. Nem sequer da mesma cor ou marca!
Atarraxando na cara um desvanecido sorriso amarelo, encarei dois olhos que me fulminavam de cima de um tamborete do lado de fora do balcão do açougue, creio que pertencentes ao verdadeiro proprietário daquele carro incidental.
Ao divisar o meu de verdade quase na praça Astolpho Lobo, em frente ao Pague-Fácil do Tadeu, pronunciei o velho clichê - acho que estou ficando biruta, e instintivamente, num gesto teatral para amenizar o desconcerto entrei no estabelecimento que, além de carne, comercializava alguns artigos de mercearia.
Pedi uma Dipirona, que nestes tempos ´globálicos´ e nigérrimos se encontra em qualquer botequim, a pretexto de entabular um papo sobre distração.
Atarraxando na cara um desvanecido sorriso amarelo, encarei dois olhos que me fulminavam de cima de um tamborete do lado de fora do balcão do açougue, creio que pertencentes ao verdadeiro proprietário daquele carro incidental.
Ao divisar o meu de verdade quase na praça Astolpho Lobo, em frente ao Pague-Fácil do Tadeu, pronunciei o velho clichê - acho que estou ficando biruta, e instintivamente, num gesto teatral para amenizar o desconcerto entrei no estabelecimento que, além de carne, comercializava alguns artigos de mercearia.
Pedi uma Dipirona, que nestes tempos ´globálicos´ e nigérrimos se encontra em qualquer botequim, a pretexto de entabular um papo sobre distração.
Mas o homem do tamborete, agora com certeza o dono do carro e do açougue, transformou os olhos inquisidores em dois arco-íris de infinda ternura, e como um pai atencioso que explica o resultado de dois mais dois ao filho pré-escolar, muito possivelmente censurando mentalmente quem teria deixado a porta da clínica de repouso aberta, disparou a sentença que atestava minha insanidade:
- Aqui é um açougue. Vendemos carnes. Remédios o Sr. encontra na farmácia, disse pausadamente, em tom didático, paternal.
Estava claro que o açougueiro havia momentaneamente esquecido de também ter sucumbido à chamada diversificação das atividades, mas achei melhor não retorquir mostrando-lhe a pequena prateleira atulhada de outras mercadorias, embora sem Dipirona.
- Aqui é um açougue. Vendemos carnes. Remédios o Sr. encontra na farmácia, disse pausadamente, em tom didático, paternal.
Estava claro que o açougueiro havia momentaneamente esquecido de também ter sucumbido à chamada diversificação das atividades, mas achei melhor não retorquir mostrando-lhe a pequena prateleira atulhada de outras mercadorias, embora sem Dipirona.
Era possível que nesse momento eu estivesse incursionando pelas dependências de algum supermercado do Casaquistão.
Qualquer dia trago-lhe novidades da Lua, amável leitor, graciosa leitora.
Qualquer dia trago-lhe novidades da Lua, amável leitor, graciosa leitora.
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em outubro/2003