Sena. Banha a maior parte da bacia Parisiense (776 km), abrangendo 78.650 km2 de bacia fluvial.
Estes dois rios, os mais notabilizados do mundo, foram salvos por uma consciência de preservação também notável. Eram, num passado não muito distante, os mais poluídos da Europa.
Hoje podem-se até banhar-se em suas águas sem risco de contaminação. O grande esforço conjunto entre governos e populações foi o fator determinante para a salvação daqueles importantes mananciais, fruto da mais óbvia constatação: ninguém passa incólume nem fica impune pela agressão à natureza.
Não se tratava meramente de uma questão de inteligência ou generosidade, era mesmo uma questão da própria sobrevivência daqueles povos.
No Brasil essa consciência é um sonho distante. Governos e sociedade, salvo raríssimas exceções, não se dão conta do futuro sombrio - e mais rápido do que supõem que nos aguarda quando da estrangulação total desse sistema vital à vida, mas de finitude cientificamente comprovada.
O caso do famoso Rio Tietê, que corta ao meio a maior megalópole sul-americana reflete bem o descaso do Brasil.
Desde o governo paulista de Laudo Natel - e lá se vão décadas que os políticos utilizam a imensa cloaca em que se transformou o Tietê para suas demagógicas promessas de campanha, colocando a despoluição do rio dentro de programas meramente eleitoreiros, que hoje em dia não convencem ao mais ingênuo eleitor.
O nosso Itabapoana mesmo parece ser vítima de rompantes inconsequentes de burocratas em suas escrivaninhas assépticas, degustando legítima água mineral Perrier e efetuando elucubrações mentais de como justificar seus gordos salários.
O Projeto Managé parece ter saído de uma dessas pranchetas, em verdade tão bem teorizado que a princípio parecera algo sério e profundo. Qual nada! Só teve o mérito de ter sido concebido para um pseudo funcionamento em consórcio com os municípios adjacentes aos 264 km de seu leito, talvez para confundir posteriores questionamentos sobre o seu fracasso, pulverizando o ônus da culpa.
Absolutamente nada de bom aconteceu ao velho e carcomido Itabapoana nestes 3 anos de programa, exceto aos que confeccionam os conhecidos cartazes que ficam estrategicamente colocados nas entradas e saídas dos municípios como marketing político de cada prefeito, de cujas disposições para as medidas práticas são tão falsas quanto uma nota de 3 reais.
Não é justo no entanto que se debite unicamente ao poder público o estado de coma do Rio Itabapoana e de tantos outros em cruel agonia neste imenso Brasil. Nem tampouco culpar esta ou aquela comunidade, um ou outro município ribeirinho.
Todos temos uma parcela de responsabilidade por ação ou omissão, pela maneira imediatista de encarar a vida como se não houvesse o amanhã. Quantos dos que estão lendo agora estas linhas não hesitariam em despejar seus excrementos na mesma fonte que lhes fornece o elemento vital à manutenção da sua própria vida?
Quantos terão se contentado com promessas espúrias de políticos em épocas de campanha, sem mover uma palha para cobrar-lhes medidas práticas e emergenciais para pôr termo à cruel agonia dos nossos outrora límpidos e saudáveis mananciais hídricos?
Quantos não terão o egoísmo de pouco se lixar com as gerações vindouras que desventuradamente, sem nenhuma culpa deliberada, estão fadados a contemplarem com a garganta sedenta e a pele esturricada, os derradeiros milionários em suas mansões cinematográficas, com os rostos diplomáticos, sorverem em canudinhos de ouro, em frenesi, as últimas gotas de água potável do planeta?
Autor: José Henrique Vaillant - pulicado em outubro/2000