29 de mar. de 2013
Salário mínimo = miséria máxima
O salário mínimo completa 60 primaveras em maio, mas ninguém tem motivos para comemorar.
Instituído em 1940 no prolífico governo do ditador Getúlio Vargas, na época da fartura o salário valia o equivalente hoje a R$ 569, mas atualmente mal consegue comprar uma cesta básica das mais modestas.
No entanto, parece que o brasileiro domina o milagre da multiplicação dos pães, pois só mesmo por milagre 28 milhões de pessoas conseguem sobreviver e sustentar famílias com o iníquo valor que recebem mensalmente.
A cantilena é a de sempre. Já está gasta. Ninguém aguenta mais ouvir falar de rombo da Previdência à época de reajuste do mínimo. Em 1999 foram "abundantes" R$ 10 o valor do reajuste. E em 2000, num gesto de extrema benevolência e generosidade, a exorbitante quantia de R$ 15, a despeito de ela aumentar o rombo de R$ 46 para R$ 48 bilhões ao ano.
A perversidade deste rombo (o governo arrecada R$ 54 bilhões e gasta R$ 100 bilhões ao ano) está no que o origina. Equivoca-se o velhinho pelo sentimento de culpa achando que os seus R$ 151 são o estorvo. Não são, absolutamente.
O estorvo são os párias que abocanham o sangrado seio da viúva com voracidade selvagem, sugando com avidez desconcertante R$ 40 bilhões ao ano.
São eles uma pequenina parcela de funcionários públicos, muitos dos quais - políticos, principalmente jamais trabalharam pela pátria mais que oito anos e chegam a acumular R$ 50 mil mensais de aposentadoria.
Estes somam três milhões de felizardos, pouco mais de 10% do total. Devoram 40% dos recursos.
Os outros 25 milhões obrigam-se a viver com os 60% restantes, uma desigualdade assombrosa; quem trabalhou muito ganha pouco e quem trabalhou pouco ganha muito.
Até uma criança entende a reforma da previdência, com a derrocada dos marajás, como a solução única para a questão previdenciária brasileira. Mas o diabo é que rareiam políticos, autoridades comprometidos com o Brasil.
Contrariar interesses subalternos, mas de grosso calibre requer muita vontade, muita determinação, muito desassombro.
O famigerado "direito adquirido", que qualquer juiz prontamente referenda é uma cretinice jurídica criada para a defesa da pequenina burguesia, porquanto não se ouve falar do direito adquirido à vida para a maioria da população que vive em condições subumanas neste rico Brasil, sujeitando-se à humilhação das migalhas, quando disponíveis.
A sordidez política é tão grande, o desvario da ambição, tão intenso, que estão esquecendo de garantir a mínima condição de sobrevida para o povo.
Com isso constroem inconscientemente seu próprio sepulcro, os insanos!
Autor: José Henrique Vaillant - publicado em abril/2000