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29 de mar. de 2013

Podres poderes


O recente arranca-rabo envolvendo os senadores Antônio Carlos Magalhães e Jáder Barbalho dá bem a tônica da moral e dos bons costumes que permeiam a personalidade de boa parte dos políticos do mais alto clero deste país.

Os dois maiores caciques digladiam-se com palavras que fazem corar o mais obtuso dos cidadãos, envergonham o mais salafrário dos vigaristas, ruboriza a ralé dos indignos.

Mas eles são excelências, ora bolas. E apesar dos xingamentos serem a vero, fica parecendo mais coisa de excêntricos, um capricho de milionários, que não tendo mais nada a conquistar no terreno pessoal (já que têm tudo o que querem), resolvem se divertir acirrando mutuamente as adrenalinas.



Para os simples mortais, no entanto, isso é um caso sério. Começa pela desilusão de saberem que sua vida é influenciada intensamente por gêneros dessa estirpe, que sua mais alta corte legislativa bem parece a casa da mãe Joana, e culmina com a tristíssima constatação de que os escrupulosos senadores ali estão para realizar o inimaginável, menos trabalhar pelos interesses do Brasil e dos brasileiros.

Quando duas prostitutas disputam a tapas o mesmo homem, se agridem com palavras de baixo calão e perdem ambas chumaços de cabelos, a cena é deprimente, evidencia baixeza moral mas não causa maiores dissabores senão a elas próprias, evidentemente.

Quando vossas excelentíssimas não economizam nos adjetivos que exprimem os piores instintos humanos, com a palavra ladrão se banalizando a tal ponto que chega a ser quase um elogio, aí quem se ferra é o povo porque sabe-se que neste débil país tudo oscila no humor dos seus políticos.

Fico com as prostitutas.

A briga particular dos dois bólidos não seria nada tão assombroso não ficasse a seguinte dúvida: e se ambos estiverem certos? Se são realmente, como eles próprios se acusam, ladrões, salafrários? Como é que fica? Veremos suas fotos estampadas em cada poste com a inscrição "procura-se"?

Existirá alguém na face da Terra que ousará intentar ações jurídicas que os destronem dos respectivos reinos ricamente ornamentados com o sacrifício da imensidão de pessoas que vivem na fronteira da desesperança? Francamente!

Vejo que o Arnaldo Jabor não exagerou quando disse: "eu presenciava a baixaria dos dois brigões, com ladrão daqui, fujão dali, quando uma barata se aproximava dos meus pés. Pensei em esmagar bicho tão asqueroso mas resolvi poupá-la porque é preciso que viva alguma coisa natural e pura neste Senado".

É o cúmulo do escárnio para com o povo sofrido e desesperançado. Para quem tem vergonha na cara e apesar dos pesares ama o seu país, cada ofensa trocada entre membros de uma instituição como o Senado Federal, a mais alta corte legislativa e que teoricamente simbolizaria o equilíbrio, a tolerância e o fair play entre seus membros, dói na alma.

Cada palavra de baixo calão que de lá se ouve é como um objeto pontiagudo ferindo de morte o lábaro que ostentamos estrelado, é a dignidade pública violentada, a desilusão consolidada.

A se confirmarem as denúncias, fica o gosto amargo da constatação de quão putrefatas se encontram as instituições brasileiras e a sensação de que a única solução para o Brasil seria uma faxina geral do sistema viciado que aí está, com o extermínio das ervas daninhas que impedem o florescer do otimismo e da esperança.

Autor: José Henrique Vaillant - publicado em dezembro/2000