Venho eu há tempos brigando com esse teclado velho de guerra, teimando em nele calcar alguns conjuntos de letras que formem frases e, com elas, orações e períodos que transmitam mensagens aos amáveis leitores e às graciosas leitoras. Digo brigando porque em verdade vos digo ser a tarefa bastante penosa num país gerido (ou seria melhor, digerido?) a quatro mãos por um sujeito obtuso (o criador) e uma mulher sapiens (a criatura), que parecem experimentar orgasmos múltiplos pelo ocaso da meritocracia, da cultura, da educação, do conhecimento.
Pesquisa da Fecomércio publicada em 1/4 deste ano no G1 aponta que, em 2014, nada menos que 70% dos brasileiros não leram um livro sequer. O uso da internet, facilitado pelos smartphones é apontado na pesquisa como um dos responsáveis pela queda na leitura, principalmente entre os jovens.
Mas não só isso, creio eu. Se um ex-presidente da República se gaba de não gostar de ler, e se muitos analfabetos funcionais são eminências em variadas instituições de comando do país, é impossível tal fato estimular os brasileiros ao hábito saudável da leitura. Ao contrário, obviamente.
É sintomático que os livros de colorir para adultos tenham virado febre no Brasil. "O sucesso é tamanho que as duas obras dessa linha, "Jardim Secreto" e "Floresta Encantada", ambas de Johanna Basford, lideram a lista dos mais vendidos do Publishnews, publicação voltada para o mercado editorial. A primeira vendeu 122.654 exemplares em abril, enquanto a segunda vendeu 109.224.
Para se ter uma ideia do quanto esses números representam, sem contar o terceiro colocado nas vendas - "Plihia", do padre Marcelo Rossi, também um fenômeno, mas por conta da religião -, os outros 17 títulos que compõem a lista dos mais vendidos, juntos, somam 149.075 cópias, enquanto os dois títulos para pintar somam 231.878", afirma reportagem do UOL de 5/5.
Uma pena porque, entre outros benefícios, o hábito da leitura previne o terrível mal de Alzheimer, segundo o neurologista André Matta, professor de neurologia da Universidade Federal Fluminense (UFF). "A área do cérebro responsável pela leitura está intimamente ligada à região da memória, assim como às da atenção, da concentração, da visão e da linguagem falada. Quanto mais se estabelecem conexões entre as áreas, mais elas se desenvolvem", afirma o professor.
Instruir-se, além de tudo de bom, desperta também a consciência política, aprimora a capacidade de discernimento para as escolhas, auxilia na detecção de mentiras, hipocrisia e empulhações, ajuda, enfim, a votar melhor.
Epa! Não pretendia ir tão longe... Queiram desculpar-me, senhores do apocalipse ético e da desgraça do Brasil.
Vamos colorir, pessoal?
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado originalmente em setembro/2015