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1 de fev. de 2017

Livros de colorir para adultos é uma "febre" no Brasil. Faz sentido


Venho eu há tempos brigando com esse teclado velho de guerra, teimando em nele calcar alguns conjuntos de letras que formem frases e, com elas, orações e períodos que transmitam mensagens aos amáveis leitores e às graciosas leitoras. Digo brigando porque em verdade vos digo ser a tarefa bastante penosa num país gerido (ou seria melhor, digerido?) a quatro mãos por um sujeito obtuso (o criador) e uma mulher sapiens (a criatura), que parecem experimentar orgasmos múltiplos pelo ocaso da meritocracia, da cultura, da educação, do conhecimento. 

Pesquisa da Fecomércio publicada em 1/4 deste ano no G1 aponta que, em 2014, nada menos que 70% dos brasileiros não leram um livro sequer. O uso da internet, facilitado pelos smartphones é apontado na pesquisa como um dos responsáveis pela queda na leitura, principalmente entre os jovens.

Mas não só isso, creio eu. Se um ex-presidente da República se gaba de não gostar de ler, e se muitos analfabetos funcionais são eminências em variadas instituições de comando do país, é impossível tal fato estimular os brasileiros ao hábito saudável da leitura. Ao contrário, obviamente.

É sintomático que os livros de colorir para adultos tenham virado febre no Brasil. "O sucesso é tamanho que as duas obras dessa linha, "Jardim Secreto" e "Floresta Encantada", ambas de Johanna Basford, lideram a lista dos mais vendidos do Publishnews, publicação voltada para o mercado editorial. A primeira vendeu 122.654 exemplares em abril, enquanto a segunda vendeu 109.224.

Para se ter uma ideia do quanto esses números representam, sem contar o terceiro colocado nas vendas - "Plihia", do padre Marcelo Rossi, também um fenômeno, mas por conta da religião -, os outros 17 títulos que compõem a lista dos mais vendidos, juntos, somam 149.075 cópias, enquanto os dois títulos para pintar somam 231.878", afirma reportagem do UOL de 5/5.

Uma pena porque, entre outros benefícios, o hábito da leitura previne o terrível mal de Alzheimer, segundo o neurologista André Matta, professor de neurologia da Universidade Federal Fluminense (UFF). "A área do cérebro responsável pela leitura está intimamente ligada à região da memória, assim como às da atenção, da concentração, da visão e da linguagem falada. Quanto mais se estabelecem conexões entre as áreas, mais elas se desenvolvem", afirma o professor.

Instruir-se, além de tudo de bom, desperta também a consciência política, aprimora a capacidade de discernimento para as escolhas, auxilia na detecção de mentiras, hipocrisia e empulhações, ajuda, enfim, a votar melhor.

Epa! Não pretendia ir tão longe... Queiram desculpar-me, senhores do apocalipse ético e da desgraça do Brasil.

Vamos colorir, pessoal?

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado originalmente em setembro/2015