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1 de fev. de 2017

Carlos Borges Garcia: um bom-jesuense injustiçado. O dinâmico realizador é um cidadão probo, de integridade moral e ética irretocáveis

O ex-prefeito de Bom Jesus do Itabapoana, de 87 anos, é um personagem que não tem em vida o reconhecimento pleno que poderá ter na História, se inculcada nas pessoas por memorialistas com vontade férrea de alinhavar os remendos de consciência e os farrapos de informação e de cultura a que foi reduzida parte considerável da sociedade.

Diferentemente de agora, em que a inversão de valores atinge o ápice da insensatez de cultuar ladrões e enxovalhar a retidão e o mérito, é possível que as gerações vindouras infiram o devido valor a esse homem indubitavelmente honesto, capaz, apaixonado por trabalho, mais ainda por sua cidade.

Muito já se escreveu e se falou sobre Carlos Borges Garcia, de suas fecundas realizações na iniciativa privada, sobretudo na administração pública. Aqui neste espaço fica registrada a convicção de que tratou-se do prefeito mais realizador do município nos idos pregressos, aquele que imprimiu marca própria, inconfundível, em todos os quadrantes de Bom Jesus do Itabapoana e os distritos, numa trajetória iniciada em 1962 (até 1966) como secretário de Obras do então prefeito Oliveiro Teixeira. De janeiro de 1967 a janeiro de 1971 foi vice-prefeito na chapa de Jorge Assis de Oliveira e prefeito quatro vezes: janeiro de 1971 a janeiro de 1973; janeiro de 1989 a dezembro de 1992; janeiro de 1997 a dezembro de 2000 e, por último, de janeiro de 2005 até outubro de 2006, quando licenciou-se por questões de saúde.

Suas vigorosas arremetidas no quesito "Obras" fê-lo construir a Secretaria de... Obras (Complexo Administrativo Adélia Bifano), para poder melhor interagir nas demandas bom-jesuenses, onde chegava religiosamente às 7 da manhã todos os dias. Nos tempos em que não se conhecia Dengue, Zika e Chicungunya, Garcia realizou a grandiosa conquista, para os padrões locais, da canalização do Valão Soledade, que acabou com o mau-cheiro e o visual deprimente de décadas (hoje, mais que nunca, de incalculável importância sanitária). Construção do Cais da Beira-Rio, Polo Industrial e Comercial da Nova Bom Jesus, Barragem de Pirapetinga, Passarela da Amizade, Praças e Logradouros, Escolas, Ginásios Esportivos, Laguinho, Urbanização, instituição do Transporte Universitário, entre outros, são feitos e implementos que formam a espinha dorsal do município, sua identidade cuja holografia é um estiloso CG .

Com um diferencial: ao invés do "rouba mas faz" que marca reputações de expoentes políticos deste e d´outros tempos imemoriais, Carlos Garcia poderia ter adotado o seguinte epíteto: Faz e não rouba. O dinâmico realizador foi um servidor e homem probo, de integridade moral irretocável, que até opositores ferrenhos reconhecem.

Fosse ele forjado numa lavra de cidadãos oportunistas, dissimulados, adeptos do famoso jeitinho brasileiro, íntimos das firulas jurídicas, e principalmente tivesse enriquecido com a política, sua cassação e a do seu vice Paulo Sérgio Cyrillo muito provavelmente não tivesse acontecido. Ele foi punido por falar a verdade, sem rodeios nem subterfúgios: "Rifei um apartamento de minha propriedade. Um imóvel modesto, comprado com o resultado do meu próprio trabalho para angariar recursos para a campanha". (A cassação se deu em março de 2008, com Garcia ainda em licença médica e Cyrillo no cargo).

Foi uma estocada brutal em quem fazia jus encerrar a carreira política de um jeito triunfante, esfuziante de consideração e apreço, mas que acabou de forma melancólica. Merecia Carlos Garcia ter-se recolhido ao recesso do lar e à algazarra de netos e bisnetos sem este absurdo dos absurdos que a desembargadora relatora do processo teria escrito no despacho sobre a rifa incidental: “É necessário zelar pela moralidade da administração pública... Admitir que um candidato tivesse financiado sua campanha com dinheiro sujo, e tenha acesso a um cargo eletivo desse modo, é considerar que o povo brasileiro possa ser representado por alguém desprovido de requisitos morais”, disparou a excelentíssima.

Acima da letra fria da Lei existem exemplos à mancheia de atos, atitudes e ações que a Justiça relativiza, chegando ao cúmulo de manter livre no país um cidadão que até um mês atrás seria preso pela Interpol no momento em que pisasse qualquer solo estrangeiro. Livre, dando cartas e jogando de mão na política.

Já aqui, o sentido de gratidão, nos estertores, ferido de morte, recebeu recentemente, no dia 17/3 o tiro de misericórdia disparado pela Câmara de Vereadores, ao rejeitar as contas de 2006 de Garcia. Foi a estocada final no "criminoso" que, além de se eleger com "dinheiro sujo", sujou também as contas depois (embora o julgado, formalmente, tenha sido Cyrillo).

O "crime" apontado pelo Tribunal de Contas, que recomendou a rejeição referendada pelos vereadores foi a perda do prazo para entrega de documentos, burocracia que significou zero prejuízo para os cofres públicos. Mas o Legislativo, instituição eminentemente política que não é obrigado a cumprir tecnicidades produzidas pelo TC dobrou os joelhos e disse amem. Ao contrário de como fez em 2003, que em circunstância análoga foi contra o Tribunal e manteve o mandato do então prefeito Miguel Motta.

Tomando emprestada a sentença de um jornalista, "tem gente que estuda cada vez menos sobre cada vez mais até saber nada sobre quase tudo", a sensação que fica é que o mérito da matéria foi julgado com a severidade envernizada pelos interesses da política, que alguém já dizia ser a 2ª profissão mais antiga do mundo.

Carlos Borges Garcia, um dos que mais lutaram por exceções à regra, emerge dessa profissão com a altivez dos simples e grandes homens. Seu nome triunfante paira solenemente sobre a traição, a maledicência e as injustiças, ridicularizando as nulidades reinantes. E se perenizará como um destacado verbete grafado em bela página da História de Bom Jesus nas mentes e nos corações dos justos!

"Quem comete uma injustiça é sempre mais infeliz que o injustiçado". - Platão

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado originalmente em março/2016