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31 de jan. de 2017

Ao vencedor, as batatas?; ou, perder não foi de todo ruim para Aécio

Embora as batatas no sentido literal da frase sejam mesmo o prêmio dos que venciam a disputa pelos tubérculos insuficientes para alimentar ambas as tribos evocadas pelo Quincas Borba, de Machado de Assis, a depender de como a presidente Dilma Roussef vai tocar o seu segundo mandato, ela e o PT podem ficar com as batatas no sentido figurado.

Sem querer escorregar naquilo que a esquerda denomina “arrogância da direita” (somos, isto sim, do DIREITO), parece claro que o terrorismo eleitoral, fruto de um marketing agressivo, violento, foi o artilheiro que deixou a bola nas redes do adversário, com gol no segundo tempo da prorrogação, fruto de um pênalti inexistente. O abuso desmedido, desmesurado nos aspectos legal e moral para a conquista a tornou uma vitória de Pirro.



No PT só tem gente má? Claro que não. Aliás, prosseguindo na analogia futebolística, os petistas de boa índole, aqueles que não queriam simplesmente ganhar por ganhar, a vitória de agora assemelha-se à de um  time quando vence por acaso, num contra-ataque improvável, depois de um jogo em que atuou de maneira sofrível, tomando olé, lençóis e bolas entre as pernas, por um adversário que só não pôde fazer os gols nas balizas nordestinas (hermeticamente vedadas com bolsas família) e, ironia das ironias, em sua própria Minas, berço da liberdade, dos heróis da inconfidência, que desta feita voltou as costas para um dos mais destacados de seus filhos, também fechando a meta (embora Dilma seja igualmente mineira, Minas se revela uma mãe desnaturada ao não permitir a alternância de poder, sempre positiva, que areja a Nação). 

A presidente vai governar um país extremamente dividido. Mais de 83 milhões de pessoas não votaram nela (os 51 milhões e tantos de Aécio, e os 32 milhões e tantos que não votaram em ninguém – 27,44% entre brancos, nulos e abstenções). Considerando-se apenas os votos válidos, de 54 milhões aproximadamente para ela, e 51 milhões aproximadamente para ele, todos hão de convir que a diferença entre o empate é ínfima nesse universo gigantesco.

Com um Congresso renovado, heterogêneo, e um Senado que resgatou um nome de peso da oposição (Tasso Jereissati/CE); que reelegeu outro nome portentoso dos tucanos (Álvaro Dias/PR, o mais bem votado em todo o país, com nada menos que 77% dos votos dos paranaenses); que se reforçou com outros nomes oposicionistas de peso como José Serra, Romário, entre outros, a bancada oposicionista fortalece o paiol de munição para encarar o rolo compressor petista com sua maioria de aliados.  


Portanto, não será nada fácil a vida da presidente. Some-se a isso o espocar de escândalos, dia sim, outro também; buscas e mandados judiciais a governadores e a parlamentares envolvidos no Petrolão, a sangrar o governo; a inflação corroendo o dinheiro principalmente dos mais carentes; o crescimento da economia pertinho de zero; um mercado de capitais arisco num governo que só tem olhos de enxergar o poder pelo poder.

O resultado geral das eleições só não foi catastrófico para o PT porque manteve a Presidência. Basta mencionar que seus governadores eleitos só governarão para 16,1% do PIB (estados do Acre, Ceará, Piauí, Bahia e Minas), enquanto o PSDB governará para a maioria dos brasileiros (44,4% do PIB – São Paulo, Paraná, Goiás, Mato Grosso do Sul e Pará). O PMDB ficou com o vice-campeonato, 22,4% do PIB (Rondônia, Tocantins, Alagoas, Sergipe, Espírito Santo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul). 


Se Dilma não der uma guinada radical na postura melíflua com que age com os malfeitores de seu governo e de sua gente, e continuar na toada meio barro, meio tijolo com a qual vem gerenciando até aqui, periga escrever na história uma das páginas mais tristes, sem precedentes .

Se não impedir que a oposição consiga transformar o bolsa família em programa de Estado (e não mais de partido), disciplinando a concessão aos que realmente necessitam, eliminando os parasitas que se alimentam do sangue alheio e fomentam o terrorismo eleitoral, será pule de dez que terá de entregar o poder em 2019, ainda que o candidato seja o deus Lula.


Autor: José Henrique Vaillant - Publicado originalmente em outubro/2014