Avô e avó costuma-se dizer, são mais corujas que os pais.
Veríssimo, Noblat, e uma plêiade de vovôs e vovós compõem regularmente
verdadeiros panegíricos aos netos e netas, extasiados com a doçura dos
pequerruchos, prenhes de amor e de desvelo.
Também sou avô, do Lucas, que hoje tem 12 anos. Não lhe
dediquei nenhum texto laudatório, entretanto, porque não me ocorreu pontuar meu
afeto por ele, também dessa maneira. E como nessa idade ele certamente não iria
gostar de babação de avô, exercito-a com Ana Lara, que não é minha neta, mas
considero como se fosse, duvidando que haja avô de verdade mais babão que este
avô postiço que lhes fala.
Larinha é irmã materna do meu filho caçula Gabriel, filha de
minha ex, Silvana. Uma doçura de criança em todos os sentidos. Não tem
preconceito a colos, é simpática com todo mundo e, aonde vai, logo se adapta,
arrebatando os corações de tantos quantos interagem com ela.
Aos dois anos de idade, ainda não articula direito as
frases, mas é delicioso conversar com ela, que repete como um gravador
automático tudo o que se fala. - O gatinho branco está debaixo da cama -, falo.
E ela responde no seu idioma próprio, que não sei reproduzir direito, cravando
nos meus aqueles olhos fascinantes, de um azul ultramarino:
- o gatin banco basso da cama? Ou então, - o gatin ´peúdo´
(peludo); - a bola `maela´ (amarela), - a tia ´tuli´ (Suely), etc.
Que a pequena Lara seja feliz em todos os momentos de sua
existência, com a potestade suavizando-lhe os espinhos da vida. Que seja uma
criança livre, bem orientada, respeitada, gozando de uma infância plena de
encantamentos; que seja uma adolescente inteligente e de mente sã; uma adulta
realizada e feliz.
As pequenas e muito esporádicas frações de tempo que
eventualmente desfruto com Larinha (ela mora com a mãe em outro estado) são
momentos muito deliciosos, inesquecíveis.
Até bom, talvez, que as oportunidades sejam mesmo escassas,
porque dizem que tudo em exagero faz mal. Assim, ela livra-se de um chato quase
sexagenário a torrar-lhe a paciência, e eu me arrisco menos a ter um piripaque
por excesso de ternura, de amor e de carinho.
Autor: José Henrique Vaillant