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Blatter e Dilma: constrangimento |
Ontem
(15/6) a presidente Dilma Roussef foi sonoramente vaiada no Estádio
Mané Garrincha, em
Brasília, quando da
abertura da Copa das Confederações.
Não
uma, nem duas, mas três vezes: quando anunciaram sua presença;
quando o presidente da Fifa Joseph Blatter mencionou seu
nome, e quando ela
própria discursou rapidamente, em alguns segundos que duraram uma
eternidade para ela,
ao declarar aberto
o torneio.
Blatter
inclusive interveio censurando o povaréu, pedindo fair play que, no
Português claro, quis dizer educação.
Sem
disfarçar o constrangimento, Dilma deve ter pensado,
de dentro do buraco ontológico em
que enfiou a cara, que este sábado foi um daqueles dias que não
deveria ter saído de casa!
Ninguém
gosta de ser vaiado, claro. Mas nestes tempos em que os governantes
petistas sentem-se como semideuses, o apupo do povão dói mais.
O alarido da torcida magoou, mesmo
considerando que Dilma já vinha sendo treinada
em receber vaias metafóricas
pela inflação, pelo
pibinho, pela desaceleração da economia, pela queda vertiginosa nas
pesquisas de popularidade, pela faxina ética que ameaçou fazer e
não fez, pela base aliada mais infiel do
que pensava Bentinho, de Capitu; pela mediocridade, enfim, deste
governo que é uma cópia ruim
e melancólica
da única bandeira lulista – o assistencialismo desvairado!
Isso
significa que ela corre riscos para se reeleger? Não sei. Ainda que
a vaia fosse na Arena Pernambuco, na Fonte Nova ou na Castelão,
permaneceria em dúvida porque público futebolístico é uma coisa,
e público “bolsafamilístico”, outra.
Uma
coisa, porém, fica definitivamente estabelecido:
candidato a demiurgo desce
do etéreo pedestal, coloca
a empáfia
num embornal e conforma-se
em ser simples mortal, para rimar legal.
O
que precisa ocorrer com Blatter. Mesmo que o futebol seja o esporte
predominante, sua
senhoria, ainda que o
presidente da toda-poderosa
Fifa, não tem o direito de se meter na vaia alheia.
O senhor doutor
também não é um demiurgo, viu Sr. Blatter? Que credenciais divinas
o Sr. ostenta para se encher
de razões e dar esporro no povo?
A
vaia, Sr. Blatter, assim como outras manifestações que não
afrontem a lei e a ordem, são mecanismos democráticos que o cidadão
tem para demonstrar insatisfação.
Qualquer
ato, ação ou atitude de censura a ela denota autoritarismo, princípios
totalitários.
Quer
dizer que o Sr. julga que o povo, além de pagar o preço
estratosférico por suas arenas, pagar o preço exorbitante das
mordomias que um simples beija-mão do papa custa R$ 700
mil, ainda não tenha o direito de vaiar? Tem de aplaudir de pé com
as mãos, enquanto os senhores sacodem as joias para ditar o ritmo?
Menos,
Sr. Blatter, menos! Não venha dar pitaco na vaia dos outros. O povo
já tem o pão, da bolsa esmola, e o circo que, a propósito,
um deles o Sr. administra.
Mas ele, o povo, não quer só isso. E não
sou eu quem diz, são as vaias!
Autor: José Henrique Vaillant
Autor: José Henrique Vaillant