18 de jun. de 2013
O governo se elege combatendo as elites e faz estádios para os pobres?
Até os azulejos do Maracanã e das arenas cinematográficas em todo o país sabem que dinheiro público grosso, que se empilhado cédula por cédula chegaria a Marte, foi gasto nas obras megalomaníacas dos estádios!
Enquanto isso, cidadãos morrem nos corredores dos hospitais sem leitos; animais morrem de sede no Nordeste, e seus proprietários contemplando com amargura as obras inacabadas de transposição do Rio São Francisco, que só Deus sabe se, e quando, serão concluídas, não obstante terem tragado uma montanha gigantesca de dinheiro do erário!
Pois bem. No sábado (14/6) a presidente Dilma foi intensamente vaiada no Estádio Mané Garrincha, em Brasília.
Os apupos foram de tão grande intensidade, que Joseph Blatter, presidente da Fifa, pediu fair play (minha tradução livre: seus mal-educados, respeitem sua inatacável presidente).
Uma pausa: mesmo não estando presente no Mané Garrincha, vaiei também, pelas ondas magnéticas da decepção com os rumos do país, e por suposto, também fui repreendido por sua senhoria, o todo-poderoso Blatter.
Não aceitei, contudo, o esporro, e até fiz um texto repudiando-o (aqui).
Aliás, se o Brasil fosse uma nação que se desse ao respeito, este estrangeiro seria admoestado por se imiscuir na soberania alheia e constranger tantos milhares de brasileiros na própria casa desses brasileiros.
Pior ainda: repreendeu-os por terem exercido o direito sagrado de protestar pacificamente, o que é legítimo num regime democrático.
Retomando o fio da meada: nem bem a presidente se refez da ressaca que as vaias deixaram, muitos analistas, presumo que chapas-brancas, entenderam que as vaias partiram das elites.
O raciocínio deles é que pobre não pode pagar R$ 280 por uma entrada, nem seriam convidados por patrocinadores ou parceiros da festa de abertura da Copa das Confederações, que distribuíram ingressos a personalidades vips.
Então tá. Se não foram os pobres que vaiaram Dilma..., o governo fez estádios para as elites, é isso?
Será que esses analistas dirão também que as gigantescas manifestações de rua, em número sem precedentes de participantes e de abrangência terão sido compostas apenas pelas elites?
Autor: José Henrique Vaillant