No outono de tanta folha ressequida,/
lembro-me bem da primavera esperdiçada;/
tu me vias com paixão mui incontida/
e eu, basbaque, a julgar que era maçada!/
Quanto sofrer isso me fez, minha querida./
Pior ainda, só o teu, óh!, doce amada,/
que conduziste em tua sina tão dorida/
o torpe engano de pensar foste enjeitada./
O que de útil pode ter tal descoberta,/
que exacerbado amor platônico, de tão grave,/
obstruiu resolução fundada e certa?/
Amargura, apenas. E que fique o alerta:/
nunca ser tão cego e obcecado a procurar a chave,/
sem ver que a porta, muitas vezes, está aberta!/
Autor: José Henrique Vaillant