“Quando adoecemos, queremos um médico extraordinário.
Se temos uma construção a fazer, queremos um engenheiro fora de série. Somente quando estamos na política é que nos contentamos com homens comuns".
Reduzindo o raciocínio em nível de município, imaginem o amável leitor e a graciosa leitora o seu prefeito ou a sua prefeita, o seu vereador ou a sua vereadora.
São preparados? Conseguem juntar lé com lé, cré com cré, como diz Reinaldo Azevedo, nas concatenações de raciocínio quanto aos problemas de suas cidades?
Mais ainda: eles planejam as ações resolutivas desses problemas?
Acercam-se de auxiliares reconhecidamente competentes, qualificados em cada setor específico de modo a propor e desenvolver métodos e fórmulas eficazes de aprimoramento dos padrões de serviços prestados à população?
São pessoas que, como a maioria dos brasileiros, vivem unicamente à custa dos proventos obtidos honestamente?
Levam eles vida regrada, conceitualmente compatível com usos e costumes?
Agora, quem me lê, raciocine de outra maneira, de forma literal, tal como Hoover fez no figurado: você está no leito de uma sala cirúrgica e vão abrir sua barriga.
Há duas pessoas ao seu lado, sendo que uma é formada em Medicina, a outra nunca viu um bisturi. É claro que você vai preferir que a primeira mexa no seu umbigo.
Imagine que o seu bem-estar, o seu futuro e o futuro dos seus dependem da política e dos políticos. Alegoricamente, a sua barriga, a dos seus filhos, estão sendo abertas por quem não é médico!
Vão (vamos) morrer antes do tempo!
A planta do seu prédio está sendo feita por quem não sabe regra de três!
Vai cair!
Fato é que a política encerra em si os mecanismos que movem as demais atividades do homem.
Saúde? Depende da política; Educação? Depende da política; Segurança? Depende da política. O que mais a gente imaginar, depende da política.
E ainda há lorpas e pascácios, como dizia Nelson Rodrigues, que se jactam de não darem a mínima para a política.
"Detesto política, não me inteiro do assunto, não voto em ninguém, não preciso, não quero saber", vocês já devem ter ouvido alguém comentar, não é mesmo?
Tal pessoa, quando capotar numa estrada por estar esburacada, vai se machucar, ou morrer, por causa da política que ela nunca fez questão de saber.
Quando ela perder o emprego devido as condições econômicas adversas; quando ocorrer como agora com os venezuelanos, e não puder nem comprar o papel higiênico, vai ter de lavar o fiofó, se tiver água, ou ficar com ele sujo, por causa da política.
E quando chegamos ao fundo do poço da questão política brasileira, eis que nos deparamos com um novo começo, poço este cujo fim, tal como o universo, é infinito:
“O político ideal que vocês desejam, aquele cara sabido, aquele cara probo, irretocável do ponto de vista do comportamento ético e moral, aquele político que a imprensa vende que existe, mas que não existe, quem sabe esteja dentro de vocês”.
Lula, minha gente, disse isto aí em cima, no convescote de comemoração do 10º aniversário do PT no poder (posso escrever igual pharmácia antigamente? - no phoder).
E disse com todas as letras!
Agora, um raciocínio lógico: se em toda regra há exceções, por onde andam essas exceções que não deram um tranco no "Nosso Guia", como Elio Gaspari denomina o ex-presidente?
Não ouço um pio...
Será que a política brasileira é tão predatória que engoliu até o adágio?
Autor: José Henrique Vaillant