Pablo Neruda (1904-1973), escritor chileno, um dos mais consagrados poetas de todos os tempos, disse em seu livro autobiográfico “Confesso que vivi”:
“A América Latina gosta muito da palavra esperança. Agrada-nos que nos chamem continente da esperança. Os candidatos a deputados, a senadores, a presidentes se autointitulam candidatos da esperança.
Na realidade esta esperança é algo assim como o céu prometido, uma promessa de recompensa cujo cumprimento se adia. Adia-se para o próximo período legislativo, para o próximo ano ou para o próximo século.”
O genial poeta, sincera e apaixonadamente marxista-trotskista-leninista, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura em 1971 não merecia que a ideologia de sua paixão apresentasse tal nível de baixeza num país, como a que promove os sacripantas petistas.
Neruda, onde estiver, certamente estará com o olho rútilo e o lábio trêmulo de indignação - como dizia o nosso Anjo Pornográfico, o também genial dramaturgo Nelson Rodrigues - porque jamais teria imaginado que o seu texto, claramente dirigido à "direita pervertida”, aos "donos do capital selvagem”, pudesse ser usado com tanta propriedade contra gente que comunga (?) de sua (a de Neruda) ideologia.
O comunismo, fragorosamente derrotado no terreno estritamente ideológico - apesar dos pablos nerudas - exigiria gente mais competente para fazê-lo reviver no Brasil, com os acessórios necessários aos tempos modernos.
Até os tijolos que restaram do muro de Berlim como souvenirs devem estar horrorizados com essa cambada brasileira, com as figuras ridículas e desastradas como as de Delúbio, Silvio, Genoino, Zé e outros companheiros muy amigos.
Quiseram reviver o comunismo em terra brasilis da maneira mais delirante, às avessas, pervertendo numa guinada de 360 graus o dogma primordial, a natureza e a essência do regime que era, grosso modo, tirar da elite conservadora e dividir com o proletariado.
No caso, tiram dos pobres para dar aos ricos, mas justiça seja feita a esses larápios: cultivam o “mentir sempre”, um dos preceitos filosóficos da vertente engeliana.
Num outro trecho do livro, Pablo Neruda parece que escreveu na década de 70 do século passado com lupa no Brasil de hoje.
Falando de González Videla, que governou o Chile no período 1946-1952, disse o poeta: “(...) logo renovou-se a esperança, Videla jurou fazer justiça e sua eloquência ativa lhe atraiu grande simpatia (...) mas os presidentes em nossa América criolla sofrem muitas vezes uma metamorfose extraordinária (...) rapidamente mudou de amigos (...) ligou sua família com a aristocracia e pouco a pouco converteu-se de demagogo em magnata (...)”.
Qualquer semelhança...
O Brasil talvez nunca tenha produzido tantos novos-ricos como agora, nem enriqueceu ainda mais os que já existiam, sobretudo nunca viveu tamanha discrepância entre o que lhe era acenado com o efetivamente concedido.
Pior ainda: nunca foi tão saqueado, tão roubado, tão vilipendiado!
A traição se revela brutal, inacreditável, estarrecedora!
Um povo que apostou todas as suas fichas na esperança vê-a inteiramente desvanecida.
Acabou-se o que era doce, voltou à estaca zero, terá de começar tudo outra vez, esperando que pelo menos possa tirar algo de útil da crise, que como bem disse a senadora juíza Denise Frossard, não é precisamente uma crise política, é caso de polícia.
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em julho/2005