O bom trabalho de acompanhamento e notificação, quando o nível de contaminação atingiu um patamar de tal magnitude que refreou possíveis intenções de maquiar os números; e o susto propriamente, que pela intensidade é capaz de chacoalhar a inércia e encorpar políticas de saneamento doravante.
A guerra promovida pelo Aedes Aegypti em Bom Jesus parece não deixar dúvidas de que as políticas sanitárias devem sofrer um revés na sua letargia, prolongando aos 365 dias do ano as ações de vigília minuciosa, rigor na inspeção de potenciais criadouros, esquadrinhamento com lupa de cada quadrante suspeito, campanhas ininterruptas de conscientização, treinamento especial dos agentes de Saúde, sobretudo vontade política e honestidade de propósitos em impedir que o mosquitinho tome novamente de assalto as cidades e faça reféns o seu povo, de modo pontual na “baixa estação turística do Aedes”, quem sabe promovendo pandemônio maior que o de agora, na “alta estação” vindoura.
E o que pode ter concorrido para isso é que os municípios quase nunca são capazes de tomar a iniciativa, de planificar ações mais de acordo com suas particularidades, ficando sempre a reboque dos governos superiores e suas esporádicas campanhas nacionais, de suas liberações somente quando o inimigo toma de assalto as fortificações adversárias.
Por exemplo: deveria haver uma espécie de fusão dos esforços das duas cidades no combate, nas ações preventivas também de iniciativa própria e amiúde.
A causa exige sacrifícios, criatividade, não perdoa alteregos inflados.
Doenças infecto-contagiosas, como a Dengue, não respeitam fronteiras.
Pior: segundo pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a fêmea do Aedes (a que pica) voa até 1 km de distância de seus ovos.
Tem, portanto, capacidade maior de proliferação da que acreditavam os cientistas.
Ou seja, se existisse alguma teoria quanto a impossibilidade de o mosquito ir de um lado para o outro (de Bom Jesus/RJ para Bom Jesus/ES e vice-versa), ela cairia por terra.
Não havendo mudança radical de atitudes, acima de tudo dos políticos, em relação ao Aedes, só restará aos bom-jesuenses rezarem a pequena prece: “São Bento, livrai-nos desse bicho peçonhento”.
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em março/2011