Zilda Arns Neumann, médica pediatra e sanitarista brasileira, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa |
Domingo, 15/8, TV sintonizada no Faustão, a Dra. Zilda Arns na tela.Fausto Silva, apresentador que vive considerando muita gente paradigma de alguma coisa boa, acertou na mosca desta vez.
O rechonchudo apresentador, pra variar, enaltecia a dignidade, a integridade, a seriedade, a generosidade, numa cascata de adjetivos que direciona a muitos, só que naquele instante a uma pessoa que mais os merecem: Dra. Zilda Arns.
O frio terrível que eu estava sentindo aqui em S.J.Calçado não impediu que meu coração se aquecesse de imediato, e uma instantânea sensação de energia se apoderou de mim.
Emanava do aparelho de TV uma aura de integridade moral e de solidariedade humana tão fortes que verti uma lágrima, destinando-a mentalmente junto com um beijo ardoroso àquela face que expressa de forma tão doce e linda o que há de melhor e de mais edificante no homo sapiens.
Ela me comoveu e me comove tanto, que neste momento em que escrevo o faço com os olhos embaçados.
A admiração que tenho por essa mulher não é só pelo que ela representa ou faz, mas é sobretudo pelo modo meigo de mostrar-me que eu também poderia ter representado e feito o que não fiz;
Ela me diz com o olhar enternecido que não havia obrigatoriamente a necessidade de eu possuir gama enorme de recursos materiais para doar algo ao próximo além de uma esmola aqui e acolá.
Ela me lembrou, encantadoramente sorrateira, que aquela criança do Lar André Luiz, o velho abandonado no asilo ou o enfermo no São Vicente poderiam ter tido de mim um motivo a mais que justificasse suas existências, ainda que fosse um simples afago.
Não é demasiado tardio, como a danadinha da dona Zilda me mostrou tão docemente, porém, perceber que além do meu próprio umbigo há um concerto de aflições a me rodear, e que posso e devo colaborar para a afinação de notas tão dissonantes num país deitado eternamente no berço esplêndido de injustiças e iniquidades!
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em agosto/2004