No entanto, o crescimento inversamente proporcional do número de pessoas e de veículos em relação a uma estrutura do tempo das diligências, que pouco ou nada mudou, empecilhos ao livre caminhar dos pedestres pelas calçadas obstruídas, dificuldade de estacionar no centro, entre outros pequenos dissabores já começam a ser mais complicadores na vida da cidade, dando os primeiros sinais da neurastenia que acomete os grandes centros e que também pode se revelar encorpada por estas bandas em curto ou médio prazos.
O trânsito, embora ainda flua sem graves contratempos e seja calmo nos bairros periféricos começa a dar os primeiros sinais de nervosismo no centro da cidade, especialmente os problemas de falta de vagas para estacionar.
A ausência de fiscalização em relação a pequenas irregularidades, a tolerância e a complacência frente a abusos, a indiferença quanto a um mínimo de ordem e organização, talvez uma certa má-vontade em contrariar interesses fortalecem o problema.
Ruelas estreitas, mal ajambradas, disputadas por carroças, carros, caminhões, profusão de bicicletas, motos, motonetas e até equinos tornam-se uma mistura comburente que necessita de ciclovias, de normas, de regras, de campanhas de conscientização e principalmente de fiscalização rigorosa, de fazer cumprir a lei e os regulamentos do trânsito para reduzir sua periculosidade.
Uma certa parcela do comércio que produz riqueza, gera divisas e dá emprego traz também o efeito colateral da arbitrariedade, principalmente alguns mais importantes como supermercados e lojas de eletrodomésticos.
Os cones exasperantes que demarcam vagas para uso particular em local público são os que mais irritam porque sugerem transigência com o poder repressor.
Tal e qual o impávido e indecomponível entulho autoritário da República dos generais, que é a demarcação das imediações de bancos como área de segurança (alguém pode dizer para quê?), alguns comerciantes avocaram unilateralmente e conquistaram na marra o mesmo “direito”.
Alguns deles ignoram solenemente não apenas o Código de Posturas Municipais, mas inclusive a prerrogativa do ir e vir das pessoas, usando as calçadas como extensão de seus negócios.
Parafraseando o jornalista Elio Gaspari, ao “andar de baixo”, que é o povão, só resta pedir a Deus que preserve sua integridade física por ter de caminhar nas pistas de rolamento em alguns trechos e ir reclamar com o papa.
Curioso observar como proliferam as placas de “carga e descarga” e a coincidência de elas invariavelmente se posicionarem em frente a grandes lojas comerciais, inclusive na matriz e na filial do maior supermercado da cidade!
Os que não têm a mesma ventura legal cuidam de ganhar o espaço para seus veículos de entrega “no grito”, o que não lhes causa dissabores porque não são importunados da mesma forma.
A petulância de alguns pela certeza da impunidade e ausência de autoridade repressora gera situações surrealistas e tonifica o desagradável clima de provincianismo e de atraso.
Ruas de tráfego intenso são transformadas em canteiros de obras em pleno horário comercial, caixotes horrorosos que garantem vaga de estacionamento particular em vias públicas substituem os cones em frente a alguns pequenos estabelecimentos, certamente porque os proprietários não estão exatamente preocupados com o visual da cidade e se sentem com os mesmos direitos dos grandes, o que é compreensível.
Engradados tomam conta de calçadas, veículos de duas ou quatro rodas, idem. Dia destes um enorme caminhão com placa de outro município foi estacionado de forma transversal em plena Praça Gov. Portela, tomando no mínimo cinco vagas dos cidadãos bom-jesuenses.
Seus ocupantes se refestelavam na sombra à espera dos compradores para sua mercadoria (cadeiras estofadas). Estava difícil conseguir um lugar para estacionar legalmente nas imediações!
A dificuldade de encontrar vagas no centro da cidade e os demais problemas do trânsito, que somente por enquanto ainda não são dramáticos, podem ser resolvidos simplesmente pelo cumprimento da lei, dos regulamentos, sobretudo da vontade.
Ou então, já que em tese todos são iguais perante a lei, cada qual poderia colocar seu conezinho demarcatório defronte aos seus estabelecimentos e aí ninguém mais poderia estacionar na cidade.
Por conseguinte, o trânsito seria calmo como em horários de jogos do Brasil em copas do mundo.
O único problema é que, neste caso, os consumidores sumiriam..., mas..., pensando bem..., parece que eles não têm tanta importância mesmo...
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em dezembro/2002