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14 de abr. de 2013

Turismo é investir nas placas de Bom Jesus do Norte; ou, vejam como fica algo num mundo sem ninguém

Deve-se investir dinheiro (nem tanto, nem tanto!) para substituir as placas de boas-vindas, investindo também o básico do nosso idioma velho de guerra. 

Seja “bem-vindo” deveria ser grafado assim, com traço-de-união (também conhecido como hífen), que mesmo a Nova Ortografia não ousou excluir dos dicionários.


Desde que as placas foram introduzidas nos três acessos a Bom Jesus do Norte/ES, se não me engano no ano da graça de Nosso Senhor de 1997, venho encafifado com esse erro ortográfico crasso, e também com a expressão “Turismo é investir na qualidade de vida”, que a rigor não quer dizer absolutamente nada.

Tá bom, tá bom, todo mundo entende a mensagem, isso é que importa, a publicidade desfruta de certa liberalidade (tal qual os poetas), a cerveja que desce redondo, em vez de redonda, etc. e tal, e eu não chegaria a ponto de dizer de meu vizinho que ´a gente é amiga´, como a Língua Portuguesa culta exige porque o substantivo “gente” é feminino.



O Português é mesmo Peralta! Eu e pertinho de 100% dos bom-jesuenses, ouso afirmar (inclusive de intelectos mais privilegiados como Padre Mello, Delton de Mattos, Romeu Couto e muita gente boa mais), escrevíamos “bonjesuense” sem o bendito tracinho que deveria unir “bom” a “jesuense”, como ensinam os mestres Caldas Aulete, Antônio Houaiss, Aurélio Buarque de Holanda e outros lexicógrafos.

Em defesa de meus compatrícios de tempos idos, a dúvida se a grafia foi sempre hifenizada ou resolveram pôr o tracinho em época mais contemporânea, ai de mim, pobre ignaro! 
Também não tenho o talento de um Dalton Trevisan para sugerir um resumo adequado (e ´portuguesmente´ correto) para “é mais prioritário investir na qualidade de vida do que gastar dinheiro para impulsionar o turismo”. 

Por tudo isso é que não reclamei até agora, julgar-me-iam (hummm!) esnobe, superficial, presunçoso, além de me arriscar até a ser processado por preconceito linguístico. 

E que utilidade teria além de desagravar as normas da língua-mater, cruelmente esculachada, humilhada, depreciada hoje em dia?
Mas eis que a natureza e o descaso uniram-se para dar-me finalmente um pretexto..., digamos, mais relevante para criticar as indefectíveis placas! 

O canal 55 da Sky (History Channel) apresenta uma série denominada “O mundo sem ninguém”, que tem no enredo a simulação de cenários urbanos outrora habitados por seres humanos após determinados períodos sem viv´almas, desaparecidas por obra de cataclismos.
Penso que nossas placas serviriam para enriquecer o programa do History, com a vantagem de serem reais (não geradas por computador), exemplos marcantes da inclemência do tempo. 

Aquela que nos brinda com toda sua esfuziante ferrugem, desalinho, amassados e erro gramatical, localizada na chegada do sentido Apiacá, transformou-se também numa espécie de ameaça à vida: as duas hastes de sustentação inferiores foram totalmente destruídas pela corrosão. 

Pior é que embaixo do perigo há um abrigo de passageiros, que correm o risco da ´desqualidade´ de vida e até virem a inspirar o slogan: 

“Turismo é investir na intensidade da dor; por mais desventura, do óbito"!

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em março/2012