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13 de abr. de 2013

Subo nesse palco; ou, heróis de ocasião adentram o cenário da demagogia e da dissimulação

A máxima maquiavélica de que "os fins justificam os meios" é o velho costume que virou tradição em boa parte de nossos políticos, e esse execrável comportamento acabou por toldar a criatividade. 

A arte de fazer política com qualidade, consistente, que exigia trabalho árduo de convencimento mediante propostas relevantes relativas a projetos necessários e viáveis, de discursos convincentes e propósitos verossímeis desvaneceu-se gradualmente nessa atmosfera de dissimulação e astúcia. 


A demagogia que impera hoje em dia já nem precisa de um lustro, de um grosseiro acabamento. 

Vai no estado bruto mesmo porque até para ela faltam a criatividade para a busca do novo, do singular, e mesmo a disposição de dar tratos à bola na procura dos discursos que pudessem soar mais autênticos. 

O marasmo de imaginação nessa esfera vem se tornando uma coisa impressionante, e parafraseando o escritor e crítico literário Agripino Grieco, no dia que aparecer alguma boa idéia alguém terá morrido de apoplexia fulminante.


A convenção imutável, irritante, é a de durante três anos pouco se falar e pouco se opor.

Parece que nesse ínterim os instintos descansam para adquirirem força redobrada para as catilinárias do ano 4, para a concepção das belas figuras de retórica e a difusão de currículos morais de fazer inveja a Madre Tereza de Calcutá. 

O destino do município e de sua gente é mero detalhe secundário. Não debatem, não buscam somar esforços, pouco questionam, porque o que vale nessa batalha é o personalismo desvairado, fremente. 

Quando ascendem-se das tocas em busca do poder utilizando o palavreado e as armas medievais de sempre, renegam a elegância e o fair play, e principalmente subestimam a inteligência do eleitorado.

Os heróis de ocasião, tão desnecessários quanto o Pavarotti resfriado (triste do povo que precisa de heróis) resplandescem nessa época como as ardentias do Atlântico. 

Todos têm o bom costume de seguir à risca os preceitos do 1º Mandamento, amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, com o ufanismo pelo torrão à flor da pele. 

Há até os milagreiros, como por exemplo os que atribuem para si a fenomenal revivificação do Hospital Jamile Said Salim, onde bastariam duas ou três intervenções verbais com seus dotes divinos. 

O pobre do hospital, agonizante como qualquer instituição de saúde pública brasileira, agravada pelas últimas gestões absurdamente incompetentes, senão coisa pior, parece que tomará o palco da campanha que se avizinha, mesmo porque pouco restou para o rol das promessas num município paupérrimo.

A falta de imaginação para formatar novas propostas, ainda que factóides, a ilusória e equivocada percepção de que o eleitor continua ingênuo, alienado e incapaz de pensar por si só, e a lei do menor esforço para a conquista dos preciosos votinhos são os principais ingredientes que levam à irresistível tentação de nomear fraudulentamente os responsáveis por atos e fatos. 

É plágio do mais ridículo e patético. Até o esparadrapo gostaria de ver o hospital Jamile funcionando na plenitude de sua capacidade, e não terão sido os lindos olhos ou a boa prosa de um ou outro samaritano que lograrão reabilitá-lo. 

O Estado do Espírito Santo, como de resto seus congêneres nacionais, precisa desesperadamente resgatar suas unidades de saúde existentes e construir novas. 

É a única e mais do que plausível esperança para o Jamile. A angústia do capixaba que morre sem atendimento pelos corredores hiperlotados é que vai se transformando num eflúvio reivindicatório que cedo ou tarde terá de ser atendido. 

Fazer como os pastores que tentam sempre persuadir a ovelha que os interesses dela e os dele são os mesmos, é inútil já há um bom tempo porque ninguém ignora ser tão falso quanto um Rolex paraguaio.

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em fevereiro/2004