A máxima maquiavélica de que "os fins justificam os meios" é o velho costume que virou tradição em boa parte de nossos políticos, e esse execrável comportamento acabou por toldar a criatividade.
A arte de fazer política com qualidade, consistente, que exigia trabalho árduo de convencimento mediante propostas relevantes relativas a projetos necessários e viáveis, de discursos convincentes e propósitos verossímeis desvaneceu-se gradualmente nessa atmosfera de dissimulação e astúcia.
A demagogia que impera hoje em dia já nem precisa de um lustro, de um grosseiro acabamento.
Vai no estado bruto mesmo porque até para ela faltam a criatividade para a busca do novo, do singular, e mesmo a disposição de dar tratos à bola na procura dos discursos que pudessem soar mais autênticos.
O marasmo de imaginação nessa esfera vem se tornando uma coisa impressionante, e parafraseando o escritor e crítico literário Agripino Grieco, no dia que aparecer alguma boa idéia alguém terá morrido de apoplexia fulminante.
Parece que nesse ínterim os instintos descansam para adquirirem força redobrada para as catilinárias do ano 4, para a concepção das belas figuras de retórica e a difusão de currículos morais de fazer inveja a Madre Tereza de Calcutá.
O destino do município e de sua gente é mero detalhe secundário. Não debatem, não buscam somar esforços, pouco questionam, porque o que vale nessa batalha é o personalismo desvairado, fremente.
Quando ascendem-se das tocas em busca do poder utilizando o palavreado e as armas medievais de sempre, renegam a elegância e o fair play, e principalmente subestimam a inteligência do eleitorado.
Os heróis de ocasião, tão desnecessários quanto o Pavarotti resfriado (triste do povo que precisa de heróis) resplandescem nessa época como as ardentias do Atlântico.
Os heróis de ocasião, tão desnecessários quanto o Pavarotti resfriado (triste do povo que precisa de heróis) resplandescem nessa época como as ardentias do Atlântico.
Todos têm o bom costume de seguir à risca os preceitos do 1º Mandamento, amando a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, com o ufanismo pelo torrão à flor da pele.
Há até os milagreiros, como por exemplo os que atribuem para si a fenomenal revivificação do Hospital Jamile Said Salim, onde bastariam duas ou três intervenções verbais com seus dotes divinos.
O pobre do hospital, agonizante como qualquer instituição de saúde pública brasileira, agravada pelas últimas gestões absurdamente incompetentes, senão coisa pior, parece que tomará o palco da campanha que se avizinha, mesmo porque pouco restou para o rol das promessas num município paupérrimo.
A falta de imaginação para formatar novas propostas, ainda que factóides, a ilusória e equivocada percepção de que o eleitor continua ingênuo, alienado e incapaz de pensar por si só, e a lei do menor esforço para a conquista dos preciosos votinhos são os principais ingredientes que levam à irresistível tentação de nomear fraudulentamente os responsáveis por atos e fatos.
A falta de imaginação para formatar novas propostas, ainda que factóides, a ilusória e equivocada percepção de que o eleitor continua ingênuo, alienado e incapaz de pensar por si só, e a lei do menor esforço para a conquista dos preciosos votinhos são os principais ingredientes que levam à irresistível tentação de nomear fraudulentamente os responsáveis por atos e fatos.
É plágio do mais ridículo e patético. Até o esparadrapo gostaria de ver o hospital Jamile funcionando na plenitude de sua capacidade, e não terão sido os lindos olhos ou a boa prosa de um ou outro samaritano que lograrão reabilitá-lo.
O Estado do Espírito Santo, como de resto seus congêneres nacionais, precisa desesperadamente resgatar suas unidades de saúde existentes e construir novas.
É a única e mais do que plausível esperança para o Jamile. A angústia do capixaba que morre sem atendimento pelos corredores hiperlotados é que vai se transformando num eflúvio reivindicatório que cedo ou tarde terá de ser atendido.
Fazer como os pastores que tentam sempre persuadir a ovelha que os interesses dela e os dele são os mesmos, é inútil já há um bom tempo porque ninguém ignora ser tão falso quanto um Rolex paraguaio.
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em fevereiro/2004