Chegando ao ano de 2000, parece que o homem esgotou todo o seu arsenal criativo, parece que já inventou o que podia ser inventado, criar o que podia ser criado, revolucionar o que podia ser revolucionado. Tudo é tão rotineiro...
A ano 2000 traz consigo algumas rotinas adicionais que são cíclicas, mas que não deixam de ser rotinas. Teremos como sempre um início de ano com sérios desfalques na grande maioria dos bolsos brasileiros - e porque não dizer, durante todo ele -, provenientes do impoluto espírito de Natal.
Tal e qual um surrado instrumento monocórdio, povoaremos as praias neste verão e elegeremos sua musa, que terá tantos centímetros de silicone por tantos gramas de gordura subtraídos em lipoesculturas.
No Carnaval, o trivial, para rimar mal. Aqui no interior, praticamente nada, mas na telinha iremos ver o festival de genitálias desnudas e a licenciosidade nos píncaros da glória.
Candidatos a personalidades disputando a tapas um lugar nos camarotes vips decorados com fios de ouro, banqueiros do jogo do bicho inconformados pela injustiça de sua escola de samba não ter sido a campeã fazem parte de um roteiro cansativo e enfadonho.
Teremos a volta às aulas e as reclamações sobre o preço do material escolar que estará (sempre está) pela hora da morte.
Teremos a volta às aulas e as reclamações sobre o preço do material escolar que estará (sempre está) pela hora da morte.
Acompanharemos a cerimônia de entrega do Oscar pela Academia de Holywood e morreremos de rir, entre aspas, com as piadinhas sem graça e sem imaginação dos astros do cinema americano.
O fato é que nada muda. Entra ano sai ano e aquela voz tonitruante “de priscas eras que bem longe vão” do Cid Moreira a martelar dominicalmente nossos tímpanos, felizmente, parece, não tendo de narrar mais as peripécias do príncipe de todos os sortilégios, o Mister M, um mágico às avessas pouco afeito ao corporativismo;
O fato é que nada muda. Entra ano sai ano e aquela voz tonitruante “de priscas eras que bem longe vão” do Cid Moreira a martelar dominicalmente nossos tímpanos, felizmente, parece, não tendo de narrar mais as peripécias do príncipe de todos os sortilégios, o Mister M, um mágico às avessas pouco afeito ao corporativismo;
Adriane Galisteu, Feiticeira, Tiazinha, Scheilas do Tchã e tantas outras deslumbradas permanecerão iludidas que nasceram com dom artístico, da mesma forma que os pagodeiros Alexandre Pires, Netinho, Vavá, Salgadinho, et caterva, que com suas performances ridículas e caricatas acreditam que fazem arte e contribuem para o progresso cultural do Brasil!
Meno male que o IBOPE a cada dia decrescente precipite o final prematuro de “Terra Nostra”, pois ninguém iria aguentar por muito mais tempo a saga romântica, dramalhona e lacrimogênea da Ana Paula Arósio com o Thiago Lacerda - nestes tempos em que muitos já preferem fazer sexo virtual -, nem a trama inverossímil de uma adolescente (Maria Fernanda Cândido) que se apaixona por um sexagenário (Raul Cortez).
Meno male que o IBOPE a cada dia decrescente precipite o final prematuro de “Terra Nostra”, pois ninguém iria aguentar por muito mais tempo a saga romântica, dramalhona e lacrimogênea da Ana Paula Arósio com o Thiago Lacerda - nestes tempos em que muitos já preferem fazer sexo virtual -, nem a trama inverossímil de uma adolescente (Maria Fernanda Cândido) que se apaixona por um sexagenário (Raul Cortez).
No esporte, o 2000 traz uma das rotinas cíclicas, já que são de quatro em quatro anos que se disputam os Jogos Olímpicos. Espera-se aí que o Brasil mude finalmente esta rotina, sagrando-se pela vez primeira campeão no futebol olímpico.
Outra rotina cíclica são as eleições, que este ano serão para prefeitos e vereadores. Neste particular é que pode residir a esperança de uma mudança.
Quem sabe a rotina da desilusão, da desesperança, da injustiça e da desonestidade encontre fortes resistências em 2000, com os brasileiros votando certo, de acordo com suas consciências e não a troco de favores?
O auspicioso é que só depende de nós a quebra da pior rotina!
O auspicioso é que só depende de nós a quebra da pior rotina!
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em janeiro/2000