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9 de abr. de 2013

Taça de fel?


A conquista de uma Copa do Mundo inebria o espírito despertando o sentido ufanista anestesiado pelas vicissitudes de um povo.

O périplo da Seleção Brasileira em terras asiáticas, com o show que nossos craques prometem proporcionar, especialmente os estilistas “Ronaldinhos”, podem trazer a quinta Copa para honra e gáudio dos brasileiros.


Tomara que tragam! Se os gols vierem na proporção desejada serão mecanismos catalisadores de angústias e decepções de uma geração apática pela falta de perspectivas, constituindo-se os breves momentos vitoriosos, tão mágicos quanto efêmeros, feitos extremamente positivos aos cidadãos, na medida em que proporcionaria uma catarse coletiva de há muito necessária e justa. 

Por outro lado, o galardão dessa possível conquista pode se tornar malévolo se não se souber administrar os sentimentos de euforia, permitindo que ultrapassem o terreno estritamente esportivo, influenciando indevidamente outros aspectos da vida nacional.


É incongruente, por exemplo, que se deixe entorpecer os sentidos pela vitória no campo esportivo em detrimento da luta pela conquista de uma vida mais digna; 

Que seja ofuscada ou enfraquecida a capacidade de mobilização na busca de mais justiça social pelo enleio de rápida transição que o ópio do futebol propicia; 

Que se permitam aos oportunistas de plantão capitalizar o presumível árduo triunfo dos atletas em dividendos políticos, como certos expoentes do poder que se arvoram na auto-intitulação de “pés-quentes”. 

Por essas e outras é que os cartolas do esporte declararam que a copa de 1998 deu prejuízo do grosso à CBF, mas que esse era um detalhe insignificante frente à “importância” da obtenção da taça (que, a propósito, não veio naquela oportunidade).

O preço que cada brasileiro paga, goste ou não de futebol, é proporcionalmente alto, muito alto até mesmo por um laurel da magnificência de uma copa mundial. 

À parte os mastodônticos custos com atletas, comissão técnica, convidados, estadias, traslados, “jabás” e as demais mordomias de praxe (até mesmo possíveis sonegações alfandegárias como ocorreram em 1994), os custos indiretos são incalculáveis. 

A começar pela excessiva e desnecessária massificação dos noticiários de toda a mídia, que ao longo dos cerca de 30 dias de disputa são dominados por assunto único, comprometendo a capacidade de discernimento das pessoas pela ausência das demais notícias do seu cotidiano, até a incrível abstinência ao trabalho, notadamente em dias de jogos em que a equipe brasileira participa, mais uma brutal paralisia festeira das tantas que já estertoram uma Nação pobre e combalida.

É necessário, portanto, algum comedimento e certos limites ao se atribuir o valor das conquistas esportivas, a fim de que não venhamos todos, sem exceção, tornarmo-nos bonifrates por uma esfera a manuseada de forma magistral (hoje nem tanto) pelos jogadores brasileiros, às vezes, porém, a serviço dos nossos fantasmas.
 

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em abril/2002