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10 de abr. de 2013

Consulentes

João Ubaldo Ribeiro anda sempre reclamando, de forma bem-humorada, que só por ser escritor as pessoas julgam que ele sabe tudo e congestionam sua caixa-postal eletrônica com as mais variadas e inusitadas solicitações de aconselhamento da vida cotidiana.

Eu não recebo cartas assim. Aliás, não recebo de nenhuma espécie, quanta sacanagem, quanto preconceito, quanta segregação! Só por que sou do interior?

Tive até de bolar algumas fictícias, fiquei tão enciumado...

Ei-las:




Escrevo esta para reclamar do esgoto empossado na minha cidade. Em todo lugar que passo é esgoto por todo o canto. Gostaria que o senhor publicasse esta reclamação para ver se tomam providências.

Ao referir-se a esgoto empossado, assim, com “ss”, me parece que você é paulista, da capital, se é que me entende.

Além do mais, todos sabemos que não há solução para esse tipo de problema. 

Esgotos empossados não são novidade aqui no Brasil, especialmente porque todos nós nos empoçamos  com “ç” em nosso comodismo e não mandamos o fedor para o diabo que o carregue. 

Em todo o caso, vou lhe dar um fiapo de minha generosidade intelectual: aconselho-a não se mudar para Brasília...

José Henrique. Você é o remédio que vai curar minha indecisão. Sou aqui de Bom Jesus do Norte e estou com uma dúvida atroz. Em quem devo votar para prefeito de minha cidade nas próximas eleições?

Meu querido indeciso. Seria antiético eu forçar-lhe uma preferência. 

Só tenho a dizer é que se você for se igualhano às pessoas conscientes e votar, você estará exercendo seu dever de cidadania, da mesma forma se estiver preocubaldo com o crescimento de seu município e tiver fé em Deusy de que as coisas mudarão para melhor. 

Não sei se devo aumentar meus seios com silicone. Está na moda e fica tão bonito..., meu marido ia adorar. O que você aconselha?

Não aconselho fazer isso, a menos que os seus sejam os chamados muxibas, está entendendo, aqueles que não resistem à força da gravidade. 

Mulheres que botam silicone aqui, botam acolá, ficam mais parecendo com aquelas bonecas infláveis que se compram em sex-shops, uma coisa sem graça, artificial, forçada, um horror!

Os mais bonitos, na minha opinião, são ainda os trabalhados pela sábia natureza, que os fez de tamanhos e formatos diferentes exatamente para não quebrar o encanto das comparações. 

O máximo que a padronização disponibiliza são modelos e características: 8 kg.0; resistência a vazamentos; tantos anos de garantia de manutenção da verticalidade; totalmente à prova de rejeição por parte dos bebês, essas coisas.

Até o meu vizinho gordo e patusco bolou uma ideia, para ele genial, que promete revolucionar o mercado da peitaria siliconizada. 

Trata-se de uma válvula engenhosa, que permite esvaziar e encher diuturnamente. 

As válvulas permitirão às mulheres, especialmente às que gostam de "melancias", dormirem de bruços, sossegadas, livres do pesadelo de um estouro acidental. Não é o máximo?
Mas eu não aconselho, cara consulente, até porque mascar chicletes não é exatamente o passatempo predileto de adultos, pegou o espírito?


Ah, José Henrique, ontem conheci uma mulher incrível, um avião! O problema é que ela me ignora total e solenemente. Dá uma ajudinha, meu guru.

Primeiramente, nada de "você é a nora que minha mãe sonha", "agora sei onde aquela estrela caiu", "a cal da minha massa", e besteiras assemelhadas.

Mas a dica principal, meu caro consulente, é descobrir se a fruta que você gosta ela não come até o caroço...

Meu marido não tem me procurado mais. Estou desesperada e não sei o que fazer, ando nervosa e aflita porque o que antes já era raro agora acabou de vez. O que fazer? Eu preciso tanto...

Tente gemada. Dê ao seu marido duas vezes ao dia. 

Se não funcionar, tente garrafadas, aquelas que contêm todos os afrodisíacos imagináveis. 

Tente amendoim, ovos de codorna, guaraná em pó, essas coisas. 

Se ainda assim não resolver, tente mudar a rotina. Vista uma lingerie bem bonita, tente-o a se lembrar dos bons tempos, daquelas fantasias, aquelas loucuras! 

Negativo ainda? Tente medida radical, então: o Viagra.

Nada? Hum, hum..., deixe-me ver..., ah, me poupe; tente o vizinho!

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em junho/1999