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3 de abr. de 2013

Pestes contemporâneas

A peste negra, doença infecciosa oriunda da Ásia, terrível, chegou a matar um terço da população da Europa Ocidental no século 13.

O pesadelo das epidemias de doenças contagiosas até meados do século 20, onde se destacavam as febres letais e a tuberculose, fazia parte da rotina de todo o ser humano até que a medicina atingisse um nível de conhecimento que possibilitou praticamente erradicá-las.



No entanto, parece que a natureza se diverte com a ciência dos homens, lançando a cada momento novos e mais difíceis desafios, o que deveria instigar os terráqueos não apenas a lutar para neutralizar as surpresas desagradáveis das inéditas e insidiosas doenças, mas a razão dessa "brincadeira" que os humanos não acham a menor graça.


Neste século, verdadeiramente notáveis são os feitos, as conquistas da ciência médica desde a mudança do conceito de doença mental implementada por Freud, logo no comecinho, pelos idos de 1900 a 1910. 

A cronologia da Medicina a partir de então vai num crescendo de fazer perder o fôlego, com descobertas fantásticas de curas como as vacinas contra cólera, febre tifóide, difteria, poliomielite; antibióticos poderosos como a penicilina e a estreptomicina, que exterminaram o bacilo causador da funesta tuberculose; a insulina para o diabetes; a descoberta do fator RH que revolucionou as transfusões de sangue; aparelhos de circulação extracorpórea e cateterismo; próteses para ossos; válvulas cardíacas; transplantes de rins, fígado, coração e até reimplantes de membros como pés e mãos.

A natureza, todavia, tem contra-atacado como a afirmar sua inquestionável supremacia sobre a frágil constituição humana. 

A AIDS é, no momento, seu maior galardão, mas traz a reboque inúmeras outras doenças de origem e curas desconhecidas e até variações mais resistentes de velhas conhecidas como bactérias que desenvolveram resistência a quaisquer tipos de antibióticos, entre elas as causadoras da pneumonia, gonorréia, meningite, otite e até mesmo da tuberculose, num retorno que se não é memorável, vem assustando deveras. 

Bebês, idosos e doentes, principalmente em hospitais abarrotados têm sido vítimas relativamente fáceis desse variado espectro. 

A AIDS vem causando devastação entre populações inteiras, notadamente nas da África. O caos já é tão intenso que o presidente norte-americano, Bill Clinton, está pedindo mais verbas ao Congresso para combater a doença, considerada ameaça à segurança nacional. 

Segundo a Casa Branca, ela assumiu proporções que afetam não só a esfera da saúde pública, mas também as da economia, do desenvolvimento, da estabilidade e da segurança. 

A ONU vem alardeando que a AIDS é como a peste na Europa medieval, e que a tragédia é ainda maior da que consta nos relatórios. 

Estima-se que um quarto da população da África subsaariana vai morrer da doença, e em bolsões da Rússia já há 40% de infectados. 

Em 10 anos, calcula-se, o Sudeste da Ásia poderá enfrentar incidências tão altas quanto as da África hoje. Para além da catástrofe demográfica, os EUA e a ONU anteveem guerras e quedas de regimes.

Estudar, portanto, as causas dessa agressividade, dessa violência por parte da natureza faz-se necessário tanto quanto se descobrir a cura dos novos males, para que se possa instituir políticas que impeçam o ciclo, quer dizer, para que não surjam doenças ainda piores que a AIDS, na hipótese desta vir a ser erradicada. 

A devastação ambiental, o desrespeito ao ecossistema, a poluição, a exacerbada busca do homem por conforto e prazer a qualquer custo nem que para isso tenha de agredir, de violar a flora e a fauna podem estar custando caro, o preço da própria vida humana em proporções endêmicas, epidêmicas, dramáticas.

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em maio/2000