Pode parecer piegas utilizar-se de uma mãe sofrida em meio a um ambiente festivo, mas o objetivo é forçar uma reflexão coletiva a respeito dos contrastes sociais em que o mundo é forjado, e nada melhor que fazê-lo justamente, e por ironia, nos momentos em que a humanidade comemora exatamente o nascimento de uma criança humilde, carente e sofrida, que veio ao mundo padecer em holocausto o preço da nossa salvação.
Reparem no olhar dessa mãe. Observem seu semblante desiludido e desesperançoso. Quem, senão os insensíveis, não haverá de deixar-se vencer pela emoção ao tentar entendê-lo?
O mundo egoísta, opressor e tirano não poderia ser tão selvagemente cruel a ponto de tripudiar assim, mostrando-lhe sonhos que jamais poderão ser realizados!
Que conjunção de astros ou conjugação de fatores telúricos ou sobrenaturais poderão dotar uma mãe do entendimento e da compreensão para as injustiças que lhes são impostas sem piedade, mais dolorosamente a seus filhos?
Conforme disse o poeta (o inglês William Wordsworth - 1770-1850), “a criança é o pai do homem”.
E essa criança no colo, certamente, é mais uma semente que não germinará de forma ideal pois que semeada em solo contaminado pela brutalidade das injustiças que a impedirão vicejar uma infância sadia e feliz.
Que perguntas esse olhar amargurado formula? Que compreensões deseja obter?
Seria talvez sobre as razões de se comemorar com tanta pompa e circunstância nesta época o nascimento de uma criança que viria a condenar veementemente a subjugação do homem pelo homem?
E o porque de alguns o comemorarem ostentando acintosamente a fartura e o poder material?
Este olhar, ao fitar o nada, certamente traduz involuntariamente o resultado da incompreensão sobre a existência de amor e carinho para alguns, indiferença ou ódio para si; castelos e mansões num lado, favelas e cortiços pestilentos e promíscuos a abrigar sua infeliz matéria, de outro;
Farturas gastronômicas de variados paladares e matizes noutras mesas, e na sua um ralo mingau de fubá raramente complementado com um naco de salame de qualidade duvidosa!
Quanto equívoco! Será que não percebemos que os mimos ofertados ao Menino Jesus pelos Reis Magos não teriam sido um simbolismo de amor ao próximo?
Não teria sido uma senha acenada há 1997 anos para demonstrar aos mais afortunados a não deixarem desamparados e ao relento os que nada têm?
Tenhamos cuidado ao degustarmos nosso bom vinho e nossa boa comida contemplando este olhar. Pode ser que tenhamos um nó na garganta e os de maior sensibilidade poderão sentir como um soco na boca do estômago.
Mas seja o que for o que sentirmos, atentemos a que este olhar tristonho, não identificado individualmente mas com certeza similar a milhões de outros merece, de nós, ao menos uma prece. Se possível, um pouco de indignação!
Eras tu, Senhor?
Reparem no olhar dessa mãe. Observem seu semblante desiludido e desesperançoso. Quem, senão os insensíveis, não haverá de deixar-se vencer pela emoção ao tentar entendê-lo?
O mundo egoísta, opressor e tirano não poderia ser tão selvagemente cruel a ponto de tripudiar assim, mostrando-lhe sonhos que jamais poderão ser realizados!
Que conjunção de astros ou conjugação de fatores telúricos ou sobrenaturais poderão dotar uma mãe do entendimento e da compreensão para as injustiças que lhes são impostas sem piedade, mais dolorosamente a seus filhos?
Conforme disse o poeta (o inglês William Wordsworth - 1770-1850), “a criança é o pai do homem”.
E essa criança no colo, certamente, é mais uma semente que não germinará de forma ideal pois que semeada em solo contaminado pela brutalidade das injustiças que a impedirão vicejar uma infância sadia e feliz.
Que perguntas esse olhar amargurado formula? Que compreensões deseja obter?
Seria talvez sobre as razões de se comemorar com tanta pompa e circunstância nesta época o nascimento de uma criança que viria a condenar veementemente a subjugação do homem pelo homem?
E o porque de alguns o comemorarem ostentando acintosamente a fartura e o poder material?
Este olhar, ao fitar o nada, certamente traduz involuntariamente o resultado da incompreensão sobre a existência de amor e carinho para alguns, indiferença ou ódio para si; castelos e mansões num lado, favelas e cortiços pestilentos e promíscuos a abrigar sua infeliz matéria, de outro;
Farturas gastronômicas de variados paladares e matizes noutras mesas, e na sua um ralo mingau de fubá raramente complementado com um naco de salame de qualidade duvidosa!
Quanto equívoco! Será que não percebemos que os mimos ofertados ao Menino Jesus pelos Reis Magos não teriam sido um simbolismo de amor ao próximo?
Não teria sido uma senha acenada há 1997 anos para demonstrar aos mais afortunados a não deixarem desamparados e ao relento os que nada têm?
Tenhamos cuidado ao degustarmos nosso bom vinho e nossa boa comida contemplando este olhar. Pode ser que tenhamos um nó na garganta e os de maior sensibilidade poderão sentir como um soco na boca do estômago.
Mas seja o que for o que sentirmos, atentemos a que este olhar tristonho, não identificado individualmente mas com certeza similar a milhões de outros merece, de nós, ao menos uma prece. Se possível, um pouco de indignação!
Eras tu, Senhor?
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em dezembro/1997