Não se pode dizer que não se ganhou nada com o presidente Lula, enfim, no poder, neste quase um ano de administração petista: além da manutenção ipsis literis da característica geral do governo Fernando Henrique, o ex bóia-fria vai também se especializando na arte da representação, no jogo de palavras e frases de efeito, talentos mais associados à aristocracia.
Nunca, jamais, em tempo algum a retórica esteve tão em evidência, nem se viu tamanha grandiloquência por parte de quem de certo modo se rejubila pela pouca intimidade com as normas cultas da linguagem.
A ninguém deve estranhar, muito menos à gente do ramo, que imediatamente a uma notícia ruim para o governo vem outra boa com o fito de neutralizar o impacto negativo.
Noticiar prós e contras não é anormal, claro. Mas tenho a impressão de que é grande a coincidência dos “empates” recalcitrantes.
O desemprego cresce a olhos vistos no Brasil, apesar de todas as promessas de um espetáculo do crescimento, que houve, sim, das filas de desempregados onde até pessoas de formação superior disputam desesperadamente vagas de garis ou de coveiros.
O desemprego cresce a olhos vistos no Brasil, apesar de todas as promessas de um espetáculo do crescimento, que houve, sim, das filas de desempregados onde até pessoas de formação superior disputam desesperadamente vagas de garis ou de coveiros.
A majoritária parcela de excluídos socialmente aumenta de forma dramática pela perversa influência dos atuais sábios da economia, que prometeram mudanças radicais na doutrina Malan/Armínio, mas que no entanto se subjugaram de corpo e alma aos seus ensinamentos.
Um ano, para uma vida inteira, não é nada. Mas um ano, para um mandato de quatro, é muito tempo.
Um ano, para uma vida inteira, não é nada. Mas um ano, para um mandato de quatro, é muito tempo.
E a inércia do governo do PT, que tropeça no próprio gigantismo da agremiação já começa a preocupar. O “Fome Zero”, a pérola dos programas, vai aos trancos e barrancos tentando se afirmar em meio às incertezas e à burocracia.
A modelo Gisele Bündchen doou um cheque de R$ 50 mil mas teve de esperar um mês até conseguir depositar o dinheiro porque não havia sido aberta sequer uma conta-corrente.
O Fome Zero, aliás, expõe uma brutal face contraditória. Um governo que disponibiliza recursos insignificantes para a Educação, diante das enormes necessidades (fato criticado pelo próprio Ministro da Educação Cristóvão Buarque) e corta verbas para a Saúde, não pode estar falando sério em dar R$ 75 para o pobre comprar comida.
Será que não se percebe que com Educação e com Saúde, sobretudo com emprego, a humilhante migalha seria desnecessária?
Está passando a hora de o presidente se preocupar mais com os efeitos práticos de seus belos discursos, de suas lágrimas sentidas, de seu gosto por bonés e outras atitudes simpáticas e populares, enquanto o povo o considera “gente como a gente”.
Está passando a hora de o presidente se preocupar mais com os efeitos práticos de seus belos discursos, de suas lágrimas sentidas, de seu gosto por bonés e outras atitudes simpáticas e populares, enquanto o povo o considera “gente como a gente”.
O arrebatamento das multidões com seu jeito franco arrisca ser anulado em razão dos resultados, cuja avaliação final pode levar o brasileiro comum a ter saudades das palavras lapidadas em universidades francesas.
Afinal de contas, a demagogia sem erros gramaticais sempre soa melhor.
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em fevereiro/2004
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em fevereiro/2004