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1 de abr. de 2013

Ídolos

No princípio os humanos adoravam ídolos de barro ou de metais. Depois passou-se a venerar ídolos invisíveis e abstratos. E no momento presente observa-se a supremacia do culto aos ídolos feitos à sua imagem e semelhança.

E a mídia, notadamente a eletrônica, necessita freneticamente fabricar esses ídolos, sem o que sua existência estaria relegada a um plano secundário.




Isto explica a razão pela histeria que acomete multidões quando morrem pessoas idolatradas ou quando deles nascem os filhos.


Muitos dos que se consternaram ao exagero pelo falecimento do jovem cantor Leandro - da dupla Leandro & Leonardo, e de tantos outros artistas e figuras populares, não o fariam com tamanho fervor até mesmo no caso do passamento de parentes diretos.

É porque estes são pessoas comuns e aqueles, mitos indeléveis nas mentes alienadas pela maciça e muitas vezes imerecida glorificação pela indústria da comunicação de massa.

Veja-se o caso da recém-nascida primogênita da apresentadora Xuxa: a começar pelo nome, de forte apelo publicitário (não sei se deliberadamente ou não), foi imposto à menina uma mitificação mesmo antes de vir ao mundo, não importando se ela haverá de querer conviver no futuro com esta honorificação, que poderá tornar-se um estigma a depender do desenrolar de sua personalidade.

O certo é que a indústria não poderia desprezar tão potencial projeto devido ao invejável “pedigree” da pequenina Sasha, o que torna a tarefa do endeusamento muito mais fácil e garantida, afiançando a oferta de ídolos para uma demanda sempre crescente.

O problema é que a pressa de produzir a fim de calar essa insaciável demanda muitas vezes fabrica produtos de qualidade duvidosa, e o mais grave: ao se venerar à exaustão um outro ser humano igualmente vulnerável e com as fraquezas inerentes propositadamente ocultadas, a sociedade tende a esquecer outros valores mais verdadeiros e autênticos, causando o desequilíbrio e o equívoco nas demais relações humanas.

Bem-vinda, Sasha. De antemão as escusas pela nossa hipocrisia. 


Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em agosto/1998