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1 de abr. de 2013

Chega de lágrimas; ou, segundo Carlito Maia, quando a esquerda começa a contar dinheiro, converte-se em direita

Como num jogo de futebol que o presidente Lula tanto aprecia, os primeiros quinze minutos é o chamado tempo que os adversários se estudam mutuamente, e a partir daí imprimem toda a força adaptando o talento e o vigor naquilo que consideram pontos fracos do contendor. 


O governo do PT, que teria vindo para sacudir as estruturas e implementar projetos pretensiosos de cidadania, visando resgatar a dignidade dos brasileiros está exagerando esse tempo. 


O próprio PT já admite que o chamado "espetáculo do crescimento" será iniciado somente em 2004, isto é, perdeu-se ¼ do tempo precioso, que voa, falando palavras de efeito e chorando lágrimas de emoção, porém sem nenhum benefício prático. 

O PT malhou muito as doutrinas divergentes como estratégia propagandista,  mas convergiu, entregou-se facilmente às linhas pragmáticas do capitalismo selvagem que tanto combatia. 

O resultado, que era de esperar, foi pancadaria por todos os lados. Engrossam o coro dos insatisfeitos políticos de fora e os de dentro do partido, e até de velhos companheiros de Lula. 

É crise da Saúde, da bancada radical, da questão agrária, do loteamento dos cargos, do ministro do STF que aponta czares no Planalto e, a mais recente delas, a do senador Eduardo Suplicy, que endossa tudo. 

A artilharia pesada que o governo enfrenta é o preço que o PT paga por ser incoerente, aplicando agora a cartilha que tanto condenou em governos predecessores, especialmente nos do ex-presidente FHC. 

É sintomático que o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, considerado por Lula e pelo PT como "gênio do mal" em tempos nem tão longínquos, faça agora rasgados elogios à política fiscal petista, absolutamente recessiva, imobilizadora a quaisquer movimentos de progresso e mel da especulação.

No lugar do espetáculo do crescimento, o que se viu foi uma série de denúncias de fisiologismo no governo, a distribuição indiscriminada de cargos onde as palavras qualificação e competência foram relegadas a um plano secundário (segundo Carlito Maia, quando a esquerda começa a contar dinheiro, converte-se em direita). 

"Nada pode ser mais nocivo do que converter o cargo técnico em recompensa", afirma o cientista político Helio Jaguaribe. 

A oposição tucana denuncia que sete em cada dez postos de confiança do governo estão sendo ocupados por aliados, que nem sempre atendem aos requisitos de competência. 

"Os críticos estão certíssimos em bombardear esse loteamento", conclui Jaguaribe. O desgaste atingiu em cheio o partido que sempre condenou o fisiologismo.

As lágrimas vertidas por Lula por ser solidário e sensível ao flagelo econômico e social de seu povo não podem ser um fim em si mesmas. 

Ato seguinte a elas é necessário dirigir também o sorriso das hienas aos conspiradores da causa que o levou ao poder. 

Será uma tragédia para o povo se o presidente se acostumar à ditadura das elites e suas lágrimas um dia vierem apenas e tão-somente pela emoção originária das músicas de câmara em Paris.

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em outubro/2003