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1 de abr. de 2013

Bancos em Bom Jesus: incredulidade pelo mau atendimento


Em Gary, Indiana/EUA, há uma lei em vigor que proíbe entrar no teatro menos de quatro horas depois de ter comido alho;

Em Oklahoma, pessoas que fizerem caretas para cachorros podem ser multadas ou presas;


Na Geórgia, é proibido trocar as roupas de manequins de vitrine sem que as cortinas estejam fechadas; 


Na Indonésia, a pena para masturbação é a decapitação, e na Finlândia é proibido o casamento de analfabetos.



Se o leitor achou graça destas leis..., digamos..., curiosas, certamente terão um riso convulsivo, daqueles que dão soluço, ao saber desta: no Rio de Janeiro, a lei municipal 3.018/99, de 4 de novembro de 1999, prevê um tempo máximo de 25 minutos para o usuário ficar em fila de banco.
 

Minas radicalizou: sob o “manto protetor” da Lei 14.235, de 26 de abril de 2002, nenhum cliente deve esperar mais do que 15 minutos para ser atendido. 

Mas, segundo leio nas folhas e nas telas, os bancos privados, acumpliciados com os da Viúva impudente, ignoram solenemente estas leis e dão bananas para os edis que as criaram, cumprindo rigorosamente, por outro lado, as leis amorais que legitimam o ato de saquear o bolso do cidadão, que só de pensar em entrar num banco já paga por aquela infeliz mas compulsória necessidade.

Minha saudosa e irreverente avó Mariquinha, ao comentar sobre coisas e fatos ruins ou insólitos, disparava sua máxima pessoal: - “só urso e nada mais”. 

O problema da fila dos bancos, creio que no Brasil inteiro, mas me parece que muito mais terrível em Bom Jesus do Itabapoana, mereceria de minha impetuosa avó o seu bordão que fez história entre os amigos e parentes.

Na Caixa Econômica Federal e no Banco do Brasil, então, a coisa chega às raias do absurdo, parece obra surrealista do mais delirante discípulo de Salvador Dali: os caixas eletrônicos, sem dúvida uma maravilha da modernidade, infelizmente ainda não podem tudo, como pagar um cheque e outros serviços que sejam imperativos o manuseio humano ali, na hora. 

E as maquininhas inteligentes são de propriedade de gênios do mal, onde presumo que a cada unidade dessas máquinas adquiridas, dezenas de empregos do bom e velho ser humano vão para o espaço. 

Resultado: filas quilométricas diárias, renitentes, convivendo lado a lado com a tecnologia de ponta, mais um exemplo deste país de contrastes.

Fui trocar um cheque na terça-feira, 8/4, na bem refrigerada e bem “encadeirada” agência da CEF de Bom Jesus. Confesso duvidar que o leitor me acredite, porque é difícil mesmo. 

Cheguei, pasme, às 12h30 e saí às 17h30. Peguei a senha e, fazendo um rápido cálculo tomando por base dois caixas no atendimento e mais de 60 números antes do meu, resolvi dar uma circulada pela cidade à espera do tempo passar, porque não é exatamente um programa prazeroso ficar tanto tempo preso num banco, ainda que numa atmosfera agradável, sentado em cadeiras estofadas. 

Voltei serelepe do meu giro, às 14h, preocupado de ter perdido a vez, mas percebi amargurado que, ao contrário, ainda teria de aguardar muito porque a fila não havia andado 10% do que estimei.
 
O guarda da agência, solícito e simpático como os demais funcionários, me avisou polidamente que eu podia esperar “lá fora”, sim, mas que depois das 15h minha entrada não seria permitida, mesmo com a senha. 

Só me restou torcer para o milagre, naquela altura do campeonato, de que às 15h a fila tivesse andado, em uma hora, quatro vezes mais que em uma e meia.
 
Às 15h, o cidadão que não tem mais nada o que fazer na vida a não ser ficar em fila de banco, retornou, resignado, portando um exemplar de “O Globo”, providência que se revelou duplamente feliz pela constatação de que naquela altura só havia um caixa atendendo, inclusive aos idosos.
 
Só que a fila de idosos também era proporcionalmente grande, e os ponteiros do relógio me apontaram em determinado momento incríveis 35 minutos sem sequer um atendimento aos "não-velhos".
 
Quando cheguei ao fim da leitura do jornal, inclusive a página necrológica na íntegra, horóscopo e palavras cruzadas, minha indignação entorpecida como a dos demais cordeiros com semblantes cansados ressuscitou. 

Fui ter com o gerente da agência, mostrando-lhe o absurdo, o aviltamento, a indignidade do trato para com as pessoas. Resposta: 

- O senhor não pode usar um caixa eletrônico?


- Não, vou apenas trocar um cheque. 

- Ah, então, desculpe, estamos com problemas de pessoal, nada posso fazer, respondeu-me educada mas friamente.

Não sei se minha personalidade continuasse a se revelar ponderada se exatamente às 17h25, quando finalmente chegou a minha vez, recebesse a informação de que o cheque não tinha fundos! 

Certamente não me contentaria apenas em pronunciar entre dentes o “só urso e nada mais” de minha querida avó! 


Em tempo: O que a massa de brasileiros aprisionados nas filas poderia produzir para o país e para os banqueiros, em simbiose, daria certamente para contratar o pessoal necessário para acabar com as filas e ainda sobraria muito para essa classe gananciosa. 

Só que neste caso eles também facilitariam a vida do povo, cativando sua simpatia, o que decididamente não é o objetivo.

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em abril/2003