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4 de abr. de 2013

Duelo Miguel Motta x Carlos Garcia: os "três" perderam

No apagar das luzes do ano de 2001 o tempo verborrágico esquentou em Bom Jesus do Itabapoana com a troca de acusações, de insinuações e de catilinária entre dois pesos-pesados da política local: o ex-prefeito Carlos Borges Garcia e o atual, Miguel Ângelo Barbosa Motta.

Motivo: a controversa dívida que aquele teria deixado para este administrar.



Foi infantilidade. O atual prefeito, talvez um tanto assustado com a realidade nua e crua que certamente o calor da campanha de 1999 cuidou de maquiar, cedeu ao impulso tentador de justificar os insucessos ou expectativas frustradas culpando a única bandeira que lhe restou, a malfadada herança de cofres vazios que não foi prerrogativa somente de Bom Jesus do Itabapoana.


Até o bloco de faturas entende que num regime democrático, onde as instituições funcionam, o caminho correto seria o da Justiça, caso houvesse indícios de crime de responsabilidade no montante do passivo encontrado. 

Parece claro que a opção pela pancadaria verbal foi uma tentativa de camuflar a insegurança frente ao enorme desafio de promover mudanças profundas - mote principal da campanha -, uma tolice porque não logrou esmurrar a inteligência da platéia e acabou com o tiro saindo pela culatra. 

O povo não quer saber quem pintou a zebra nem o sete. Quer alguém que resolva seus graves problemas, um líder obstinado que não se deixe deslizar no terreno das lamúrias e do desencanto. 


O bom-jesuense apostou em quem o conduzisse com firmeza ao progresso, às mudanças para melhor e ao bem-estar social, e este teria o mérito potencializado exatamente porque o sucesso hipotético emergiria de um cenário pretensamente desolador.

Winston Churchil dizia que “o político é capaz de prever o que acontecerá amanhã, no próximo mês e no ano que vem, e, depois, explicar porque não aconteceu”. 
Motta até que não teria de chegar a tanto porque fez alguma coisa, que só não repercutiram por ausência de uma política eficaz de divulgação. 

Mas não tê-las feito com a intensidade esperada não seria desdouro especialmente num cenário nacional de dificuldades, além do que parece uma coisa meio óbvia que os primeiros meses e até o primeiro ano de uma administração são o momento de tomar pé da situação, mais do que implantar uma marca diferencial para o governo; mesmo para os experientes, que dirá para um debutante. 

Não seria, portanto, necessário “explicar porque não aconteceu”, muito menos da forma mais fácil, transferindo responsabilidades. A vontade de realizar dos fortes se manifesta nas ações, não somente nos discursos.

Garcia, o decano político destronado em 2001 também derrapou fragorosamente! Incapaz de perceber que as fagulhas dissipar-se-iam numa atmosfera que lhe era (e ainda é) favorável, deixou-se atrair ao epicentro do redemoinho contribuindo para robustecer sua varredura.


Se a experiência não o traísse, certamente não teria perdido a chance de entrar mudo e sair calado na contenda, o que evitaria maiores arranhões em sua imagem e um compartilhamento em maior escala do ônus do desgaste (que houve, indubitavelmente). 

Veleidade é um sentido que deveria inexistir nos políticos, porque a força despendida para o lustre ao egocentrismo é subtraída daquela necessária a medidas práticas e objetivas de interesse coletivo.


Ela caminha par e passo com a impulsividade, formando uma química danosa ao discernimento e à ponderação. 
Na fogueira das vaidades ardeu a chance de o bom-jesuense conhecer ipsis literis a realidade dos fatos, já que os contendores, satisfazendo-se apenas com as agressões verbais, não procuraram o foro adequado para resolverem a pendenga, o que foi no mínimo estranho. 


Como aceitar passivamente governar fustigado por uma dívida estratosférica para os padrões locais, de mais de R$ 15 milhões (propalada por Motta), se ela inviabilizaria as ações ansiosamente aguardadas pelos bonjesuenses? A Lei de Responsabilidade Fiscal serve para quê? 


Por outro lado, por que não levar às barras dos tribunais quem “inventa tamanha maledicência", “apresenta tantos dados levianamente com uma irresponsabilidade infantil”, no dizer do próprio Garcia? 


Resumo bufo da ópera ou epílogo da ópera bufa: como invariavelmente ocorre nos meios políticos, fica o dito pelo não dito e quem sabe, se as circunstâncias futuras o exigirem, acontece uma dobradinha Motta x Garcia em nome do “interesse maior do bom-jesuense”, claro que após a devida reconciliação com as parolagens de praxe? 


De certo mesmo é que todos saíram chamuscados das altercações: Garcia, por ter enfraquecido a aura de político sereno e ponderado.  Seu desagravo intempestivo, a meu ver, em nada contribuiu para amainar o impacto das notas negativas. Acho até que contribuiu para corroborar as “ilações”; 

Motta, por seu turno, assentou mais alguns tijolos no muro da desconfiança que o povo tem sobre sua capacidade gerencial. O destempero não é exatamente o que se espera de quem exerce a autoridade máxima numa sociedade.
E, por fim, o terceiro personagem, o que mais perdeu, que é o povo bom-jesuense. 


Este, que merecia ter no equilíbrio de seus comandantes uma solução para suas prementes questões socioeconômicas, vê impotente que o tempo e as elucubrações vão sendo gastos nas celeumas inférteis e absolutamente desnecessárias.


“Quando adoecemos, queremos um médico extraordinário. Se temos uma construção a fazer, queremos um engenheiro fora de série. Somente quando estamos na política é que nos contentamos com homens comuns. (Herbert Hoover).


Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em fevereiro/2002