Excluindo-se os aproveitadores, oportunistas que se infiltram no movimento para sugar o que puderem, ou transformá-lo em braço político, no geral é um movimento reivindicatório pacífico, consciente da legitimidade dos seus propósitos que são defendidos a qualquer preço, até mesmo com a própria vida, se preciso for.
Mas, e os demais excluídos? Como se poderia organizar uma marcha a Brasília, por exemplo, dos bebês que quisessem protestar e reivindicar o fim do morticínio de seus iguais causados pela desídia e negligência das maternidades?
Será que poderíamos organizá-los numa marcha a Brasília, de gatinhas, improvisando-lhes mini-joelheiras, e uma campanha de oferta de seios intumescidos de leite pelas mulheres simpáticas à sua causa, ao longo da jornada?
E os doentes, centenas e mais centenas que sucumbem diariamente por falta de médicos, leitos e medicamentos? Caminhariam, talvez, dentro de ataúdes com rolimãs?
É cansativo, enfadonho ficar enumerando o que os políticos poderiam fazer para resolver os problemas sociais.
Seriam providências de fácil execução se assim o quisessem, mas como já se perdeu as esperanças nessa classe, só resta aos padecentes adquirir um bom calicida e um pedaço de pano vermelho e branco.
Como seria a caminhada dos velhos excluídos e jogados em clínicas assassinas? Por certo não iriam faltar muletas, pois algum político esperto (baita redundância!) certamente abriria uma empresa de fabricação e distribuição.
Como seria uma caminhada das crianças vítimas de abuso sexual? Peregrinariam munidas com cintos de castidade?
E os índios incendiados pelos brancos? Portariam extintores de incêndio ao longo do trajeto?
Gostaria de ocupar este precioso espaço com coisas alegres e otimistas. Mas não vejo jeito, e o leitor há de concordar comigo.
Paro por aqui dando uma dica financeira: o melhor negócio no Brasil, hoje em dia, é investir em ações das Fábricas de Sandálias Havaianas.
Espero que um dia uma sociedade verdadeiramente civilizada possa contemplar com o olho rútilo e o lábio trêmulo de admiração e respeito o "Memorial dos pés com bolhas!
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em maio/1997