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10 de mar. de 2013

Vendem-se ovos. Serão os humanos do futuro todos belos e inteligentes?


Os incríveis avanços da ciência médica não causam mais espanto. Inseminações artificiais, clonagem de seres vivos, transplantes e implantes de pernas, braços, mãos, pênis, corações, pulmões, fígados, rins, já são rotina num mundo onde cada vez mais se brinca de ser Deus.

Li outro dia que a mais recente façanha dos cientistas foi ter dominado com eficiência a técnica de transplante de cabeça, e só não realizaram ainda o experimento por envolver questões éticas que terão de ser arduamente debatidas.



Eu, no vigor da idade que dizem ser a do lobo, confesso que não cheguei a me entusiasmar pela notícia com a mesma intensidade pela qual recebi a da descoberta do Viagra (não deduza apressadamente, com esse ar pervertido e irônico, amável leitor, graciosa leitora. 

É que um homem prevenido e confiante de comemorar o centenário tem de pensar no futuro), pois não posso imaginar a cara de um Tom Cruise a enfeitar um corpo de vasta quilometragem com esporádicas revisões.

No âmbito da reprodução humana, chega-nos agora uma novidade: lindas modelos abriram uma página na Internet oferecendo seus óvulos a qualquer espermatozoide, digo, a qualquer produtor de espermatozoides humanos que desejar um encontro de seus gametas com os óvulos das
belíssimas mulheres, objetivando produzir seres humanos igualmente belos.

Vejam a que ponto chegamos!

- Ola, eu sou o espermatozoide fulano, produzido por cicrano. Muito prazer.

- O prazer é todo meu. Sou o óvulo tal, propriedade da modelo beltrana.

- OK. Posso penetrar sua membrana e darmos forma a um..., digamos..., Leonardo DiCaprio, fase II?

- Claro. Mas já passou no caixa? Cadê o recibo? Aceitamos cartões...



Cedo, mais cedo do que se imagina, a mistura da tecnologia com a ambição material e vaidade desmedidas levará as pessoas a conviverem com situações cotidianas dignas da mais criativa ficção científica, quando a vida estará tão banalizada que será possível a comercialização de tudo quanto possa compor o corpo humano, por camelôs que apregoarão:


- Aqui, madame, leve este par de seios. Olha só, durinhos, durinhos. Tem garantia de 5 anos contra "caída", aceito pré-datado e a sra. ainda concorre a um nariz afiladinho, zero Km.

- Quanto custa?

- Pra senhora...

- Tudo isso? Ali na esquina vi uns pela metade do preço. E eram novinhos mesmo, não iguais a esses aí, que parecem já levaram um amasso..., pechinchava.

E continuava negociando:

- Além disso, meu marido comprou ontem mesmo, olhe aqui a nota fiscal, um ovo já fecundado, veja bem, já fecundado pelo espermatozoide do galã tal no óvulo daquela estonteante atriz, por menos da metade. E ainda levou de brinde um pênis da melhor qualidade...

Foi o que bastou para o camelô perder as estribeiras e, claro, a venda:

- Pois a senhora enfia essas mercadorias sabe onde? SABE ONDE?

- Calma, calma. Deixa primeiro eu trocá-lo por um zeradinho, inteiramente pregueado, elasticidade a toda prova, que vou comprar naquela barraquinha ali, viu seu desbocado?


História atribuída ao dramaturgo Bernard Shaw.

Ele foi procurado por uma mulher linda que queria ter um filho com ele para unir a beleza dela à inteligência dele. Shaw respondeu candidamente: “Imagine se nascer uma criança com a minha beleza e a sua inteligência?” 

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em novembro/1999