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15 de mar. de 2013

Meu Deus, meu Deus, que horror!


Com esta frase Castro Alves, no célebre poema “O Navio Negreiro” exprimiu seu espanto diante da realidade dos negros escravizados amontoados nos tombadilhos dos navios, sofrendo os martírios mais cruéis impulsionados pela insensibilidade e a ganância dos seus verdugos dominadores.

O brasileiro comum, aquele que verdadeiramente labuta, cumpre seus compromissos com a Nação, paga impostos, taxas e tarifas, dá e executa trabalho, contribui realmente para o progresso sacrificando-se duramente numa vida inteira com parcos rendimentos e muitas obrigações pode invocar a frase do genial poeta e utilizar-se dela para um desabafo quanto ao que lhe vai na alma e na mente. 


São sentimentos generalizados de repulsa, de indignação que beira à náusea, de revolta e ao mesmo tempo desesperança pela portentosa máfia que tomou conta do país e que nele grudou de tal forma que somente a divindade pode remover.


Nenhum adjetivo pejorativo, nenhuma construção de frases e orações, ainda que partissem de Camões poderiam acrescentar muito para o entendimento da dimensão a que chegaram a corrupção e a safadeza. 


Elas atingiram um grau tão extremo que já não há a menor necessidade de dissimular, já não se preocupam em escondê-las. 

Quando um presidente de um país faz um esforço tão grande para alçar um tal Jader Barbalho ao trono mais nobre da mais nobre instituição política, que é o Senado Federal, e efetua as mais inacreditáveis lutas para evitar uma CPI da corrupção, tudo fica às escâncaras, visceral, rompe-se a última fronteira da esperança de que possa haver uma tábua de salvação, uma luz no fim do túnel. 

A decência, a ética e a moral estão irremediavelmente mortas, esquartejadas e insepultas, deixando um rastro de devastação, fedor e desesperança.

Numa analogia que não é assim tão desproposital, a imensa manada que somos nós, o povo, se tornou escrava de uma gente impiedosa, sanguinária. 

As circunstâncias em que vivemos de certa forma não diferem das de nossos ancestrais de cor negra porque apesar da mudança de cenário continuamos dominados, manietados por um sistema moldado numa especificação criada por aqueles poucos privilegiados que só têm olhos de ver seus escusos interesses pessoais, movidos pelo desvario da ambição. 

Os porões infectos dos navios negreiros eram resultado do mesmo senso que prevalece entre a casta política de agora, que só difere da de então pelos métodos modernos de escravizar, compatíveis com a evolução.

O ar viciado de Brasília, produzido em gabinetes cinematográficos com seus salazes ocupantes que usam privadas folheadas a ouro e pisam em legítimos tapetes persas, aflora daquela ilha da fantasia cercada de desolação por todos os lados e esmaece o horizonte da outrora pátria-mãe-gentil acuando, humilhando, sugando a energia vital dos súditos que, justiça seja feita, ainda podem contar com o circo onde se arrombam painéis, dignidade e respeito.

“Andrada! Arranca este pendão dos ares! Colombo, fecha a porta dos teus mares!”, delirou o poeta. 

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em maio/2001