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20 de mar. de 2013

Efeitos colaterais

Ah..., o tempo, como passa depressa! Eu já disse aqui da minha nostalgia, das doces lembranças dos velhos tempos que não voltam mais (deu até música, lembram-se?).

Falei sobre um efeito que acomete a todos, mas que poucos confessam, que quando se é novo o tempo custa a passar e dá tanto..., sono..., que a pessoa não pode ver uma cama (no mau sentido, por favor). 



Depois é aquele negócio, a cama passa a não ter tanta importância porque a insônia (no péssimo sentido) aumenta gradual e inexoravelmente, o crescimento passa a ser lateral, despencam as pelancas, os cabelos ficam rebeldes, isto é, rebelam- se e somem, seu sistema de auto-lubrificação entra em pane e os ossos passam a travar guerras campais entre si, e tantos outros dissabores.

Parece que foi ontem que eu encarava meu pai, à época nos seus 40/45 anos, com aquela prepotência juvenil natural: - velho ranzinza. Em breve vai ser vovô, matutava eu com perversidade. 


Parece que foi ontem..., mas hoje o avô sou eu. Aliás, não foi tão mau assim. Eu já estava, por assim dizer, pré-imune aos sustos das aparições de fatos irrefutáveis que provam que vou me transformando paulatinamente em bananeira que já deu cacho. 



Foi quando fui chamado de “tio” pela primeira vez, não pelos filhos de minhas irmãs ou de meus irmãos, bem entendido.


Que horror quando me vi frente a um daqueles “dimenor” parrudão de 16 anos, encorpado por maciças doses de Danoninho, dirigindo-se a mim, nos meus tenros 28 ou 30 anos, assim, com a voz grossa, de homem mesmo: 

- E AÍ, TIO?

- Deus o abençoe, SOBRINHO, respondi-lhe, enfatizando o grau de parentesco que não tínhamos, na tênue esperança de que ele entendesse que minha entrada na confraria dos tios de mentirinha não teve a menor graça. 

Mas como ia dizendo, meu primeiro neto, o Lucas (que é uma graça, não obstante ser talvez, juntamente com as dores ciáticas a maior prova de que realmente estou dobrando o Cabo da Boa Esperança) não chegou a me desconcertar, até porque me veio logo as elucubrações inevitáveis, que ajudam a lustrar a ilusão: 

- Raí, o formidável jogador de futebol, não foi avô aos 35 anos? Eu próprio, que fui pai relativamente cedo, natural que  aos 46 anos de idade seja avô também, ora essa...

O problema é que a mente está ficando sagaz, já não se ilude tanto. Nos últimos tempos ela tem atinado com perseverança  nesse tal de Projeto Genoma, está ficando mais fanática em torcer pelo sucesso dos cientistas que dissecam os genes em busca do rejuvenescimento, do que pelo seu querido Mengão.

E para completar o conformismo só falta passar essa onda dos quarentões e quarentonas se entusiasmarem por parceiros muito mais jovens (ouviu, Marília Gabriela? Quando passar, conte comigo), a fim de que se restabeleça a ordem natural das coisas. 

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em setembro/2000