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30 de mar. de 2013

E o bolo solou...


Brasil. Década de 1970. País do futuro, que deveríamos deixá-lo se não o amássemos. País onde o petróleo era nosso e o nacionalismo uma condição básica para a sobrevivência.

Naquela época reinava com muita desenvoltura o guru Delfim Neto, ministro da Fazenda que preconizava para o povão o arrocho e as dificuldades como forma de desenvolvimento. Sua tirada predileta: - precisamos deixar o bolo crescer para depois dividi-lo.



Brasil. Véspera do século XXI. O futuro não chegou e está difícil amá-lo. A vontade é deixá-lo o mais rapidamente possível, fugir de um progenitor com tendências infanticidas.


O bolo? Bem, parece que não usaram o fermento correto. Não cresceu e continua mal dividido. Também, pudera, Figueiredo, Sarney e os Fernandos são por acaso bons confeiteiros? E ainda usando ingredientes deteriorados produzidos em Brasília?

O fato de o bolo não ter crescido, e suas gordas fatias terem continuado a ser devoradas por poucas mas privilegiadas bocas gerou conseqüências desastrosas, com repercussão especialmente negativa na área da Saúde Pública, e não é difícil entender porquê: 

Um corpo mal alimentado, desnutrido e sujeito a agressões por toda a sorte de microorganismos, vírus e bactérias que dividem seu habitat promíscuo, aliado a uma mente conturbada por dúvidas e indecisões acerca do futuro, subjugada por injustiças sociais acintosas, não pode ter saúde. 

E aí entra um raciocínio simples e lógico: a melhoria da saúde da população passa, em primeiro lugar, pela melhoria das condições de vida dessa população, e para que isso possa acontecer é necessário dividir igualitariamente o bolo.

Enquanto isso continuaremos a conviver com filas intermináveis de doentes a mendigar junto aos órgãos públicos, que nunca funcionam, uma consulta médica ou um medicamento. 

Continuaremos a contemplar hospitais hiperlotados, sem a mínima condição sequer de higiene, com gente morrendo pelos corredores abarrotados, sem atendimento, contraindo infecções; bebês morrendo em série nas maternidades; pessoas idosas que só conseguem marcar uma consulta para daqui a 1 ou 2 anos, ou seja, muitos deles, post mortem. 

Na área odontológica então, nosso "terceiro-mundismo" se insinua explicitamente. Somos o país dos banguelas e das próteses antiestéticas . Sabem por quê? Porque os dentistas que prestam serviços para estados e municípios só existem para respaldar belos discursos de campanha política.

Pensam eles, os políticos: lamentavelmente não temos recursos para tudo, não é mesmo? Por que cuidar de saúde se temos coisas mais prioritárias? Antes de tudo temos de salvar os bancos, temos que comprar os deputados, temos que garantir nossa sobrevivência política. Depois consertaremos o forno e faremos um belo bolo. Talvez até cantemos para os sobreviventes o parabéns...  

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em julho/1997