Ainda é comum, aos 13 anos de idade, as meninas-crianças serem casadas com maridos arregimentados pelos pais, sem nunca os terem visto. A partir daí seus únicos direitos são os de permanecerem vivas e procriarem.
Na Tailândia, as meninas de até oito anos de idade são procuradas por pedófilos, constituindo a prostituição infantil um dos estímulos ao turismo.
Nos EUA, berço da liberdade, as prisões femininas contam na maioria com guardas masculinos. Muitos deles cometem toda a sorte de abusos (a maioria sexuais) contra as detentas.
Em todo o mundo a discriminação e o preconceito contra as mulheres ainda persistem mais deletérios do que se supõe.
No Brasil não é diferente. Por trás dos pseudos direitos iguais e das liberdades irrestritas em todos os aspectos sociais e profissionais, as brasileiras sofrem os dissabores de uma sociedade impregnada da cultura que ainda não se libertou do seu ranço machista.
A violência física por parte dos companheiros ainda é um cancro longe de ser extirpado definitivamente, pois a conotação de objeto pessoal e intransferível dos machos encontra-se instintivamente ativa dentro de valores arcaicos que não se renovam por carências educacionais e instrutivas.
Mais explícitas no Brasil periférico e nas regiões economicamente mais pobres, as injustiças contra a mulher revelam sua face mais cruel. É a prostituição como meio de sobrevivência, mais dolorosa a infantil.
São os espancamentos por companheiros alcoolizados, as desigualdades no mercado de trabalho, a discrepância salarial relativamente aos homens, maior dificuldade de ascensão social.
O discurso enaltecedor da condição feminina e dos direitos da mulher no Brasil conserva perenes figuras de retórica e argumentação falaciosa.
Basta atentar-se aos indicadores que quantificam sua influência na política, na economia e nas demais atividades profissionais, exceto talvez nas artes, onde sua própria condição feminina com os dotes naturais característicos possibilita-a uma interação mais ativa e efetiva.
Comparativamente há duas décadas, é evidente que a mulher brasileira galgou posições mais igualitárias, conseguiu maior autonomia e independência sobre si própria, mas estas conquistas são ainda tênues.
Há que se lutar muito, principalmente na batalha que mais a fragiliza, da qual continua vulnerável em todos os flancos: a de se constituir objeto sexual muitas vezes com sua própria conivência e estimulação, cedendo aos impulsos da vaidade desmedida que juntamente com a ambição material desnudam seu corpo e sua alma para as orgias pagãs, distorcendo os fatos e forçando a leitura equivocada de que seu corpo não passa de uma bela alegoria destituída de personalidade e vontade próprias.
Não há o dia dos homens. Não deveria haver um específico para as mulheres. Todo dia é o delas e o deles, nos quais convivemos em igualdade e respeito mútuos.
Ou deveríamos.
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em março/1999