Carlito Maia (fevereiro/1924 - junho/2002: "Não tolero a ditadura de um sobre todos, nem a de todos sobre um |
Isso só deveria ocorrer quando essa dita maioria tivesse a noção exata da amplitude e da complexidade dos seus problemas; tivesse o conhecimento pleno dos seus direitos e deveres; fosse esclarecida o suficiente para poder discernir pelos atos, palavras e atitudes quem é quem ou quem teria condições éticas e morais para influenciar o seu destino.
E bem verdade que o mundo, hoje, passa por uma séria crise de homens bem preparados, de inteligências persecutórias de ideais, planos e projetos que visem ao beneficio das pessoas. E mesmo que o Brasil não escape a esse deserto de bons nomes, confesso que gostaria de ter qualquer outro a influenciar a minha vida pelos próximos quatro anos, até porque prefiro pecar por ação que por omissão.
Não quero ser inexoravelmente, sem arreglo, governado por alguém que não desejo, por alguém em quem há pouco menos de quatro anos depositei todas as minhas esperanças num futuro melhor para mim e meus compatriotas.
Fomos traídos quando ele nos prometeu, e com uma desfaçatez impressionante, tergiversou e não cumpriu nada que estava simbolizado na sua mão calejada de quatro dedos que, para mim, era mais idealista do que a antecessora completa, com o mindinho e eivada de autênticos brilhantes.
Não direi que o povo votará no próprio carrasco, como disse o próprio Lula quando perdeu a última para o FHC.
Mas diria que sua reeleição será produto da mais pura farsa, de um engodo mirabolante empurrado de forma brutal e impiedoso nas goelas da maioria dos seus eleitores, os menos esclarecidos.
Estes, em sua inocência, acreditam que o bolsa família é decorrente da mais criativa engenharia político/econômica. Não lhes é dado, claro, a chance de entenderem que pagarão (pagaremos) caro pela esmola.
A sinopse do horrível filme de terror que nos aguarda na segunda sessão assistimos por aí diariamente, e o mais terrível é que essa síntese está sendo interpretada como a mais sublime e emocionante história de amor, numa inversão de valores espantosa.
A mansidão e a brandura da maioria que dá a Lula números generosos nas pesquisas decorrem do desconhecimento de que o Brasil navega em mares calmos, antes pela conjuntura financeira internacional do que pela competência do governo, que não sabe o que significa competência ou pensa que é apenas viajar em avião de US$ 60 milhões, comprar deputados e condecorar com a mais nobre honraria o tal do Severino Cavalcanti.
Nunca um presidente brasileiro foi tão beneficiado por tamanha estabilidade mundial.
Ainda assim os criminosos juros reais “neste país” estão na estratosfera de 12% ao ano, contra 11% do governo anterior, que atravessou oceanos revoltos de crises e mais crises, como por exemplo a quebradeira da Rússia.
Banqueiros brasileiros, podem crer, serão os mais ardorosos defensores desse continuísmo revoltante!
Vade retro! Por onde anda a oposição, mesmo a do Enéias ou a da Heloísa, que não lê para o povo o que ele é incapaz de compreender? Cadê o PSDB, o PFL, que apostaram num Lula definhando até morrer em outubro?
Por onde anda boa parcela de nossos pensadores, de nossos intelectuais? Estaria purgando com o silêncio a furada do engajamento? Liguem não, errar é humano.
Este silêncio todo nos atordoa, como diz a música. E o pior e que atordoados não permanecemos atentos, ao contrário do que o Chico disse noutra época.
Compreendam, e difundam, que neste céu de brigadeiro econômico o Brasil deveria desfrutar de um crescimento de 7%, 10%, e não apenas se contentar em ser o penúltimo do mundo.
Qualquer barnabé que honestamente desejasse governar para o povo e não para “a zelite” faria melhor. Bom Jesus do Norte mesmo, Calçado, Apiacá e o Espírito Santo como um todo estão bem graças a seriedade de Paulo Hartung com o auxílio do Governo Federal?
Isso não é nada se considerado o cenário altamente favorável em que Lula surfa. Precisamos parar de nos contentar com pouco!
Como Carlito Maia, não tolero a ditadura de um sobre todos, nem a de todos sobre um.
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em fevereiro/2006