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30 de mar. de 2013

A banalidade do horror

O 11 de setembro de 2001 ficará registrado na história da humanidade como o dia mais negro e obscuro de todos os séculos e séculos.

Os ataques terroristas aos centros nervosos do poderio militar e econômico da maior nação do Planeta foram atos inumanos apavorantes contra todos os povos, e o mundo não pode ter o infortúnio de ver isto novamente.


  
 Naquele dia fatal os ataques  terroristas mais audaciosos e monstruosos ocasionaram um número horrendo de vidas inocentes perdidas, uma sucessão de pavor e devastação sem precedentes, dignos do mais delirante e inverossímil efeito especial de Hollywood. 

Como a mente humana pode produzir catástrofe deliberada com tamanha precisão e sincronismo! 


Os ataques ultrapassaram as fronteiras nacionais americanas para se constituírem desafios insolentes contra a totalidade da civilização, um duro questionamento aos sistemas de valor desta geração.  

Não foi uma tragédia  apenas para a América rica, foi uma tragédia internacional cujos desvairados desdobramentos trarão mais infortúnio e desespero para populações pobres e miseráveis que se multiplicam neste Planeta tão bonito e... amargurado.

Ditos e axiomas até antigos interpretavam o nível  de descobertas, de tecnologia, de desenvolvimento como armas que se voltariam contra o próprio homem. 

Nada tão verdadeiro! A morte já não é encarada com o mesmo grau de temor e respeito. Passa a fazer parte do cotidiano como mais uma mazela. 

E tem até certa lógica sua institucionalização quando comparada com as vítimas da fome e da injustiça. 

Ela (a morte) com certeza é melhor para aquelas mães etíopes cujas tetas sangram nas boquinhas de seus filhos esqueléticos, literalmente a pele e osso com os olhos recobertos pela mancha cinzenta do desespero pela fome. 

Com certeza é melhor para muitas populações de territórios cujos ventres inclusive geraram seus próprios genocidas, para comunidades inteiras que sofrem a tirania de líderes tresloucados que os fazem mártires em nome da religião ou da ambição desmedida de poder e de posse material.

Ninguém tem razão, e todos a  têm. O mundo tornou-se maniqueísta, onde cada ideologia se julga "do bem"  e as divergências, "do mal". 

Não existe mais a tolerância que edificava o convívio em harmonia, e a exacerbação passou a fazer parte da rotina. Esses episódios de horror, na realidade, são o acúmulo das pequeninas perversidades mútuas e diferenças do dia-a-dia, que numa espécie de surda conspiração vão se juntando para produzir a desforra bombástica. 

É como se o vizinho dissesse ao outro: "Viu a potência do meu deus?", e saísse com o riso sarcástico pela fraqueza do deus daquele.

Os artistas procuram como fonte de inspiração algo em que possam se encantar para  criar. 

Essas linhas ressentidas de otimismo param por aqui não sem antes reproduzir um texto do profeta Zé Ramalho, escusando-se com os leitores pela impossibilidade de levar-lhes algo mais ameno: 

"Prevejo dias/com o ventre da Terra à mostra/céu sem sol/chuva de bosta/mentira igual verdade/tombam estrelas/todas as calamidades/cairão sobre as cidades/tempestades/mortos-vivos nas estradas/árvores virando cruz/com a ira da potestade/os reis caminhando nus. 

Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em setembro/2001