Infelizmente os debates e opiniões acalorados não centram a mira no tumor em si, no nexo causal, nas advertências de prevenção, sobre a quantas andam as pesquisas científicas para livrar a humanidade dessa doença cruel e devastadora, mas firmam o tripé na questão política, muitos defendendo vigorosamente que Lula devia demonstrar coerência com seu discurso e internar-se para tratamento no SUS.
Ora, ora, ora, diria o falecido Teotônio Vilela, raro exemplar de político íntegro, admirável pela retidão de caráter e contagiante brasilidade.
Corria o ano de 2006. Local: Porto Alegre/RS. Trecho do discurso de Lula sobre a saúde: “Eu acho que não está longe da gente atingir a perfeição no tratamento de saúde neste país”.
Ano de 2009. Local: Olinda/PE. Evento: Congresso Brasileiro de Saúde Pública. Trecho: enaltecendo a política pública brasileira de saúde, em contraponto às carências do sistema americano, chegou a sugerir ao presidente Barack Obama, dos Estados Unidos, que criasse um SUS em seu país: “Na próxima conversa que tiver com o Obama vou sugerir que faça um SUS. Obama, faça o SUS: custa mais barato, é de qualidade e é universal”.
Ano passado: Local: Recife/PE. Evento: inauguração de uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento). Trecho: “Eu tava visitando a UPA, e eu tava dizendo que ela tá tão bem organizada, ela tá tão bem estruturada, que dá até vontade da gente ficar doente para ser atendido aqui”.
Claro que ele, como qualquer um que tenha (muito) dinheiro, pode e deve procurar o melhor para si e para os seus. Mas os políticos teriam de ser mais comedidos nas exaltações, pois os problemas da saúde pública brasileira são sérios demais.
Glorificar um SUS que demora meses entre o diagnóstico e o tratamento de um câncer nos plebeus é tripudiar da desgraça humana!
Em São Paulo há um hospital público referência em oncologia. O ICESP (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo) é o maior da América Latina, reconhecido pela excelência e bom atendimento a pacientes do SUS.
No Rio há o INCA (Instituto Nacional do Câncer), também uma referência nacional.
Outras instituições Brasil afora atendem com eficiência a pacientes do Sistema, mas a verdade é que a maioria da população brasileira carece até do atendimento básico.
Vide os jornais nacionais da vida mostrando filas quilométricas, corredores abarrotados, doentes recebendo soro nas calçadas.
As cidades de Bom Jesus são exemplos a indicar num micro-universo a derrocada da saúde em nível nacional.
O Hospital São Vicente de Paulo, a Casa de Saúde Aurora Avelino e o Hospital Jamile Said Salim (esses dois últimos lamentavelmente mortos e sepultados há tempos) atendiam aos pacientes do SUS, que eram felizes e não sabiam.
O HSVP, notadamente, recebia levas e levas de doentes de outros municípios e até de outros estados, tamanha era sua boa reputação.
Mas hoje caminha a passos trôpegos em direção a um destino incerto e não sabido, endividado até à medula, encarado com desprezo por alguns que poderiam ser seu sustentáculo mas nada fazem, certamente por reunirem condições de se socorrerem no próprio Sírio-Libanês ou em instituições assemelhadas quando precisarem.
Que o ser humano Luis Inácio Lula da Silva livre-se da doença; que tenha vida longa.
E, se possível, que o político Lula adapte sua verve que arrebata multidões à realidade do país.
Que não é outra senão angústia e desolação para milhões de pessoas carentes de sírios-libaneses.
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em novembro/2011