Fernandes Ventura quem diria, se já não tivesse partido desta para melhor.
A desventura do Ventura começou a partir do momento em que veio à lume nesta terra brasilis, pois já nos primeiros minutos de vida foi apresentado à falsidade em forma do “que gracinha”, elogio que muitos endereçavam a sua mãe mal disfarçando o repúdio por criança tão feia!
Em meio às falsidades o garoto foi crescendo sem sequer saber a quem chamar de pai, muitos eram os prováveis candidatos que acreditavam cada qual na falsa fidelidade jurada pela mãe do pobre garoto.
Adulto, passou maus pedaços na época das falsificações de remédios: sofreu com a perda do filho, vitimado por uma infecção que o antibiótico falsificado não curou, filho este que não estava nos planos, foi produto de um anticoncepcional falso fabricado com farinha de trigo.
Para apagar a tristeza tomou uma, duas, três doses de uísque falsificado no Paraguai, o que causou-lhe terríveis dores de cabeça.
Procurou um médico e este rabiscou no receituário um indevido laxante, que por ser falso não surtiu os efeitos que seriam bem desagradáveis.
- Ainda bem, pensou, - acho que sou o único ser humano feliz por ter tomado um remédio falsificado. Descobriu depois que o médico era falso, sua verdadeira profissão era açougueiro.
Fernandes Ventura sentia necessidade de relaxar. Foi ao Maracanã assistir a um jogo do seu querido Flamengo, que sabia atualmente ser terrivelmente falso.
Aqueles pernas-de-pau podiam ser tudo, menos jogadores de futebol. Não conseguiu. Foi barrado na roleta porque o ingresso era falso.
Procurou um médico e este rabiscou no receituário um indevido laxante, que por ser falso não surtiu os efeitos que seriam bem desagradáveis.
- Ainda bem, pensou, - acho que sou o único ser humano feliz por ter tomado um remédio falsificado. Descobriu depois que o médico era falso, sua verdadeira profissão era açougueiro.
Fernandes Ventura sentia necessidade de relaxar. Foi ao Maracanã assistir a um jogo do seu querido Flamengo, que sabia atualmente ser terrivelmente falso.
Aqueles pernas-de-pau podiam ser tudo, menos jogadores de futebol. Não conseguiu. Foi barrado na roleta porque o ingresso era falso.
Solicitou um pequeno empréstimo a um amigo que encontrou nas imediações a fim de adquirir outro ingresso.
- Não tenho, foi a resposta que ele sentiu ser falsa de um amigo idem.
- Não tenho, foi a resposta que ele sentiu ser falsa de um amigo idem.
Aborrecido foi para casa. Pegou mais dinheiro. No caminho de volta ao estádio, resolveu mudar o programa.
Não resistiu aos encantos de uma loura que tava dando mole. Foram para o motel.
Não resistiu aos encantos de uma loura que tava dando mole. Foram para o motel.
Lá chegando, descobriu que a loura era falsa, aquele “documento” não deixava dúvidas.
Mesmo assim arriscou, afinal precisava descarregar as tensões. Saiu dali preocupado porque na hora H a camisinha havia furado, e aí lembrou-se daquela quadrilha que falsificava camisinhas utilizando bolas de soprar.
Já em casa, recebeu a visita da polícia que procurava para descobrir quem falsificou a nota de R$ 100 a qual Ventura pagou a diária no motel. Ficou com mais um prejuízo e foi dormir.
Mesmo assim arriscou, afinal precisava descarregar as tensões. Saiu dali preocupado porque na hora H a camisinha havia furado, e aí lembrou-se daquela quadrilha que falsificava camisinhas utilizando bolas de soprar.
Já em casa, recebeu a visita da polícia que procurava para descobrir quem falsificou a nota de R$ 100 a qual Ventura pagou a diária no motel. Ficou com mais um prejuízo e foi dormir.
Martelava em sua cabeça o problema da camisinha.
Acordou milagrosamente vivo em meio a toneladas de escombros: o prédio havia desmoronado!
Tinha sido falsificado pelo Sérgio Naya, aquele deputado que falsificava tudo o que podia, desde assinaturas até prédios residenciais e parecia ter implicância com as fábricas de cimento porque não usava este produto em suas construções.
Todas estas tensões ocasionaram uma doença de pele no Ventura, e ele ficou sabendo que aqui em Bom Jesus havia um dermatologista muito bom.
Não resolveu seu problema. Este médico era falso também. Só o que conseguiu foi obter uma receita para comprar Pomada Minâncora e água boricada.
Mas isso não foi o pior. A preocupação com a camisinha furada fazia sentido. Contraiu AIDS.
E na mesa de cabeceira no quarto do hospital, via vários frascos de remédio que ele tomava mas julgava não estarem fazendo efeito pois seu estado só piorava, já estava nos estertores.
Acordou milagrosamente vivo em meio a toneladas de escombros: o prédio havia desmoronado!
Tinha sido falsificado pelo Sérgio Naya, aquele deputado que falsificava tudo o que podia, desde assinaturas até prédios residenciais e parecia ter implicância com as fábricas de cimento porque não usava este produto em suas construções.
Todas estas tensões ocasionaram uma doença de pele no Ventura, e ele ficou sabendo que aqui em Bom Jesus havia um dermatologista muito bom.
Não resolveu seu problema. Este médico era falso também. Só o que conseguiu foi obter uma receita para comprar Pomada Minâncora e água boricada.
Mas isso não foi o pior. A preocupação com a camisinha furada fazia sentido. Contraiu AIDS.
E na mesa de cabeceira no quarto do hospital, via vários frascos de remédio que ele tomava mas julgava não estarem fazendo efeito pois seu estado só piorava, já estava nos estertores.
Pensou: serão falsos? Não chegou a saber que eram; as últimas imagens que sua retina captaram foram a de um político, ex-metalúrgico, com seu tedioso bla-bla-bla desfiar pela TV na mesinha de cabeceira toda a sua retórica e hipocrisia: “vamos moralizar a política no Brasil!”
Também era falso!
Também era falso!
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em agosto/1998 e adaptado para os dias atuais