- "Nós, os governantes, é que somos responsáveis pela epidemia de dengue; não é a população".
Quanto desprendimento! Quanta coragem! Só faltou algum repórter perguntar quais seriam as autopunições que o intrépido chefe do Executivo estadual preconiza a fim de reparar mais de 90 mortes e tamanho sofrimento de um povo desassistido, enfileirado nas portas de hospitais sem médicos, acuado, pasmado pela violência de um agressor tão pequeno como um reles mosquito.
A pessoa que não cuida adequadamente do lixo que produz, que deixa o mato e a sujeira tomarem conta de seus quintais e que pouco se incomoda com a higiene e com a prevenção é tão responsável quanto o governante que não propicia saneamento básico, que negligencia a vigilância sanitária, que não faz cumprir os mecanismos legais para punirem o desleixo de empresas e de cidadãos comuns.
Chamam-se civilidade e asseio os remédios contra a dengue.
Aqui em Bom Jesus mesmo encontram-se exemplos à mancheia. Chamam-se civilidade e asseio os remédios contra a dengue.
Talvez porque demande trabalho administrativo (e até jurídico), ninguém é importunado se deixar seu quinhão de terra abandonado, com o mato às portas de Fra Mauro, na Lua, a esconder todo o tipo de perigo e armadilhas que o próprio homem cultiva para si, desde chapinhas de garrafas, copinhos de iogurte, latas, pneus, etc., etc., etc.
Ademais, só faltam externar em palavras o raciocínio (melhor seria raciocímio) de que nunca se pode perder de vista que o dono daquele terreno, daquela gleba, é um eleitor; de que não é prudente aborrecê-lo por qualquer coisinha.
Criminosamente relegada até quando o inimigo periga transpor a tênue barreira composta pela sorte, esforça-se numa ou noutra mobilização mais propagandística e hipócrita do que propriamente com a sinceridade de propósitos em destruir potenciais criadouros do Aedes.
"A limpeza sistemática de terrenos baldios pode diminuir em até três vezes as possibilidades de a população ser infectada pelo vírus transmitido pelo Aedes Aegipti", explica a farmacêutica bioquímica e mestre em Ciências Naturais, Haydêe Fagundes de Mendonça.
Pois bem. Basta andar um pouco pelas duas cidades para aferir o potencial bélico do mosquito em Bom Jesus, surpreender-se e indignar-se com a grande quantidade de trincheiras e casamatas disfarçadas com capim alto.
E assim vamos vivendo, remediando aqui e alhures, picados pelo mosquito e agredidos pela falácia dos governantes.
Sérgio Cabral, dia destes, enfatizava a necessidade de o Estado construir obras, realizar mais trabalhos de limpeza, entre outras ações e atitudes.
Sérgio Cabral, dia destes, enfatizava a necessidade de o Estado construir obras, realizar mais trabalhos de limpeza, entre outras ações e atitudes.
Mais um pouco e acabava exigindo providências "das autoridades"...
Autor: José Henrique Vaillant - Publicado em abril/2008