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2 de fev. de 2017

Um deserto sombrio de ideias. Continuamos a ver velhos santinhos com novas roupagens

A temporada de caça aos votos é a desenvoltura da dissimulação. Claro que não se pode desejar que de repente comece-se a dizer “verdades desfavoráveis”, mas este senso pernicioso se sofisticou e se personificou tanto na grande maioria dos políticos, que uma e outros se tornaram indissociáveis.

Mesmo a juventude (imaginem a “velhitude”) está cansada, extenuada com as obsoletas, anacrônicas e vãs promessas disso e daquilo, de extinção da pobreza, da violência, do analfabetismo funcional.


Quantos milhões de iris cintilaram em épocas pretéritas apenas com a imaginação de quão lindas, maravilhosas e funcionais se tornariam suas cidades, seus recantos, prometidos por aqueles que com raras exceções produzem maravilhas tão somente para seus egos cêntricos e centros de seus egoísmos.

No mais, tudo continua a Deus dará, como sempre foi e, é lamentável, parece que sempre será. Até a criatividade e o preparo intelectual havidos aqui e acolá foram abduzidos, para acentuar o desgosto da plebe que ao menos alimentava sonhos com enunciados palanqueiros bem alinhavados, consistentes, com um simulacro de conhecimento dos problemas e uma boa tese para resolvê-los.

Mas qual! Continuamos a ver velhos santinhos com novas roupagens acenando merenda de qualidade (como não fora obrigação), aumento de servidores nos dois sentidos (salarial e inchação da máquina), terraplenagem, uma creche, umas pedras nas ruas, uma pracinha e um grande etcétera de minudências.

Não se ouve um discurso, um papo que seja amparado em convicções ideológicas, no pragmatismo realizador que deveria possuir todo homem e toda mulher que almejam cargos públicos. E sua excelência, o eleitor, continuará dando a sardinha para a foca antes dela mostrar ao menos possuir um pouco de talento para realizar o truque.

Pergunte a algum candidato aqui da região os problemas macros de cada um de seus municípios. De como Bom Jesus do Norte pode amenizar os sintomas causados por sua alta densidade populacional urbana, por exemplo? De como sua vizinha homônima melhorará a infraestrutura de mobilidade e para atração de investimentos?

Vasculhem em algum outro município se algum candidato tem pronta uma diretriz, um plano de ações conjunturais capaz de tirá-lo do marasmo, da mesmice, transformando aquela foto vintage batida com flash incandescente em outra clicada numa Canon Eos digital.

Uma máxima para amplificar o ceticismo do articulista: “Se há algo que abala os formadores de opinião é constatar que quanto mais escrevem e falam, menos opinião formam”. Numa sociedade utópica, onde não existissem churrascos e cervejinhas, Flamengo, feriados e novelas..., talvez fosse possível mudar!


Autor: José Henrique Vaillant - Publicado originalmente em setembro/2016