Respeito e admiro profundamente as religiões pelo norte
moral e ético que elas propiciam, adoro observar os fieis nos templos
exercitando a fé cristã, mas eu próprio nunca frequentei uma igreja, porque sou
agnóstico.
Tenho um amigo que é ateu convicto. Quando a gente entabula
uma conversa a respeito de religião, sinto-o reprovar sutilmente esta minha
orientação. Não por achar que eu também devesse ser ateu, mas por considerar o
agnosticismo uma doutrina de acomodados, de gente que fica em cima do muro,
pessoas com convicções frouxas.
Com efeito, ser agnóstico é prático, porque se um dia ficar
peremptoriamente comprovada a existência de um Deus etéreo, você nunca afirmou
sua inexistência, o mesmo valendo se um dia comprovar-se incontestavelmente o
contrário.
Contudo, não. Não sou assim por tibieza intelectual. É que
não consigo entender como pode haver no mundo tanto contraste de beleza e
feiura, de satisfação e infelicidade, de sanidade e doença, de gozo e
sofrimento!
Em meio à gigantesca nuvem de pó formada pela derrubada das
torres gêmeas do World Trade Center, em 2001, alguém, no estupor do assombro, e
já sabendo quem era o principal mentor intelectual daquela infâmia contra toda
a humanidade, disse: “Se Bin Laden
existe, Deus não pode existir”.
Ótimo argumento para os ateus.
Meu tio Manoel (Deco) disse que uma vez, ao consultar um
médico, o científico quis convencê-lo do evolucionismo, isto é, de que o homem
não foi criado por Deus, sendo a própria natureza também resultante de
processos evolutivos, que a ciência é que opera milagres. O tio retrucou: “quero
ver então, doutor, a ciência criar, do nada, um grão de milho...”.
Ótimo argumento para os religiosos.
Pelo sim, pelo não, prefiro o meio-termo, até que a religião
me explique convincentemente a lógica de Deus ao criar bin ladens, hitlers,
bokassas, tsunamis, pestes, fome, guerra, ou que a ciência produza um grão de
milho, uma pétala de rosa, uma coruja, uma gota d´água.
Mas no papa Francisco eu desço do muro, sem medo. Nele eu
acredito! Acredito em sua simplicidade, em sua humildade, em sua sinceridade de
propósitos, em seu amor pelo semelhante, em sua sabedoria, em sua integridade
moral, em sua fé em Deus e nos seres feitos à Sua imagem e semelhança.
Aliás, se todos fôssemos constituídos, um pouco que seja, do
verniz de Francisco, não haveria a necessidade da crença em alguém superior!
Autor: José Henrique Vaillant