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3 de jun. de 2013

Prefeito de Bom Jesus do Norte/ES pede à população que se inteire do "conceito de coletividade", e eu também



O prefeito de Bom Jesus do Norte/ES (foto aérea de Farley Couto), Ubaldo Martins de Souza deu um depoimento a Ebenézer Campos, do Jornal Repórter e Revista Minha Cidade é Esta, no dia 25/5/13. Como as palavras fazem sentido, emito algumas considerações.

Ele disse que assumiu o 4º mandato (dois dos quais consecutivos, de 2001 a 2008; o primeiro, de 1993 a 1996) em meio a problemas de tal ordem, que usou a seguinte expressão, transcrita aqui literalmente: “Nenhuma das três vezes anteriores encontrei tanta dificuldade, tanto no setor administrativo quanto no financeiro”.


Falou também o prefeito (transcrição ipsis literis novamente): “Bom Jesus do Norte não é fácil, existe uma cultura já enraizada, principalmente nos últimos anos, governos que me antecederam tumultuados, com afastamento de prefeito. Isso fez um tumulto avantajado”.

Outra declaração: “Pessoas (nos) procuram para auferir tipos de vantagens que o município não tem condições de oferecer. Isso causa um tipo de desgaste para algumas pessoas”.

Mais uma: “(Quero, ou desejo) Pedir à população que se inteirasse do conceito de coletividade, que procure a prefeitura, os órgãos municipais, no intuito de podermos fazer as melhorias na cidade como um todo. E que lembrasse sempre que quanto melhor o nível de qualidade de vida das pessoas, todos no contexto saem ganhando. Não adianta o poder público distribuir benesses, favores, para um quantitativo pequeno de pessoas. Temos de alcançar o máximo possível um maior número de pessoas atendidas pelo poder público”.

Digo eu, agora: o grande manancial gerador de problemas é o sistema político brasileiro, que necessita de uma reforma ampla, geral e irrestrita, urgentemente há muito tempo (termo esquisito, mas proposital).

E este manancial gigantesco possui um setor preponderante que opera contra os interesses da pátria: o DPE (Departamento do Personalismo Exacerbado). 

Ali, carimbam-se as chamadas gestões de coalizão, formam-se partidos sem princípios ideológicos, vazios de conteúdo programático, mas de olho nas tetas.

Voto distrital (puro ou misto); redução, através da fusão de agremiações partidárias; revogação do instituto da reeleição no Poder Executivo, elevando para cinco anos os mandatos de presidente, governadores, prefeitos; impedimento de troca de legendas; clareza de convicções filosóficas, sociais e políticas de cada partido; agilização do TSE nas pendengas eleitorais. 

Isso, a meu ver, conferiria nova e moderna dinâmica ao sistema arcaico e viciado que aí está.

As coalizões referidas vão “ao encontro” dos interesses pessoais e “de encontro” aos interesses do país. Também dá-se o nome pragmatismo, palavra tão em voga no Brasil de hoje. 

Pragmatismo do mal, acrescento, porque visa ganhar tendo em vista projetos próprios, de grupos ou grupelhos em detrimento dos da coletividade.

A queixa de Ubaldo por ter encontrado dificuldades seria a costumeira que 10 entre 10 governantes que sucedem a adversários políticos fazem, não fosse a ênfase.

Os dois prefeitos que o antecederam no mesmo mandato, Dr. Adson Azevedo Salim (afastado pela Justiça em meados do último ano de gestão – 2012) e Pedro Chaves, o vice que assumiu, foram ruins.

A percepção que tenho é que o primeiro perdeu-se nos labirintos da política por possuir pouca identificação com a mesma, nem sequer capacitado para arrostar a necessidade de acercar-se de pessoas confiáveis que tivessem alguma intimidade com ela.

Qual não deve ter sido a decepção de Adson Salim, acostumado com o ambiente organizado, asséptico e racional da atividade privada, ao deparar-se com a precariedade da pública. Embolou-se no meio de campo!

Já Pedro Chaves, que transita com desenvoltura nessa precariedade, homem público experiente, ex-vereador por três mandatos, conhecedor dos labirintos da política, enrolou-se no modo afoito, fremente de tentar as ações.

Com pouco tempo pela frente, necessitava fazer muita coisa, e muito rápido, o que, metaforicamente, o levou a querer construir o telhado antes de levantar as paredes.

Disposto a realizar em seis meses o que não foi conseguido nos três anos e meio anteriores, assumiu o risco de altíssima probabilidade em comprometimento financeiro.

Esse frenesi foi como um rolo compressor a desintegrar o planejamento, a atropelar a planificação, reduzindo a escombros a capacidade de definir prioridades.

Creio ser essa a tradução da causa do “tumulto avantajado” referido pelo prefeito Ubaldo.

Se houve da parte de Adson e de Chaves algum ato ilícito, algum malfeito de natureza criminosa, “só falo nos autos”, para replicar outro termo muito em voga na atual quadra da vida pública brasileira.

Depois que os supostos autos transformarem-se em sentença transitada em julgado, os comentários do analista serão explícitos, porém justos e legítimos.

Mas se a nova gestão tiver informações fundamentadas em fatos, consubstanciadas em material probatório, seria até um dever torná-las públicas para que sirvam de alerta no futuro e dissipe completamente a ilusão de quem, como eu, saudava os bons ventos das realizações que a cidade tanto carece.

O fato de ter encontrado tantos problemas pode ter estimulado o prefeito Ubaldo a opinar sobre uma grave disfunção dos municípios brasileiros, principalmente os pequenos, que é o assistencialismo desenfreado.

Emprego público, que quando das campanhas políticas é insinuado e muitas vezes prometido, é o mal necessário para se conquistar o poder, segundo preconiza o “DPE”.

Só que dificultoso para os municípios disponibilizarem, uma vez que, por obras valerosas do aumento da expectativa de vida, e “desvalerosas” da inflação e redução do emprego, a demanda é sempre crescente para uma oferta decrescente, especialmente em lugares de pequena arrecadação.

Pior: com raras e honrosas exceções, percebe-se que a maioria dos contratados para cargos em comissão é despreparada, sem qualificação, que beneficia-se da coisa pública sem dar-lhe a reciprocidade em serviços de qualidade.

Em Português claro, sem eufemismos, o pedido que Ubaldo faria à população para esta se inteirar do “conceito de coletividade” é o cidadão individualmente não pedir emprego para si ou para os seus, mas interagir, cobrar, reclamar, exigir que o município invista em políticas que possam gerar ocupação para todos, indistintamente;

Que não reivindique egoisticamente um tratamento de saúde, um medicamento, uma receita, mas que lute por um sistema público que atenda a todos de maneira completa e eficaz;

Que não peça material de construção, alguns tijolos, cimento, telhas para melhoria de sua morada individual, mas que exerça a cidadania de forma intensa, efetiva, forçando o governante a disponibilizar casas populares dignas a todas as famílias necessitadas.

Enfim, o que cada cidadão precisa é ter mais consciência coletiva, estar menos centrado em seus próprios interesses e mais ao do conjunto da sociedade, fortalecendo o ideário de auferir benfeitorias sustentáveis, perenes, renunciando aos reclamos pontuais, aos agrados imediatistas, efêmeros.

Estarei eu viajando pelo éter das utopias? Pensem o que quiserem, mas apego-me como um náufrago à deriva ao tronco da esperança que, dizem, é a última que morre.

Na hipótese altamente improvável de um governante ganhar e mandar às favas os compromissos assumidos em campanha, e agir com desassombro instigado pela vontade hercúlea de romper velhos e perversos paradigmas, o espaço sob sua jurisdição tornar-se-ia exemplo de modernidade, de pujança e de justiça social.

E não me venham com o papo da fidelidade a correligionários porque, neste caso, trair alguns significaria ser leal com todos!

Autor: José Henrique Vaillant