![]() |
O
prefeito de Bom Jesus do Norte/ES (foto aérea de Farley Couto), Ubaldo Martins de Souza deu um
depoimento a Ebenézer Campos, do Jornal Repórter e Revista Minha
Cidade é Esta, no dia 25/5/13. Como
as palavras fazem sentido,
emito
algumas considerações.
Ele
disse que assumiu o
4º mandato (dois dos quais consecutivos, de 2001 a 2008; o
primeiro, de 1993 a 1996)
em meio a problemas de tal ordem, que usou a seguinte expressão,
transcrita aqui literalmente: “Nenhuma das três vezes anteriores
encontrei tanta dificuldade, tanto no setor administrativo quanto no
financeiro”.
Falou
também o prefeito (transcrição ipsis literis novamente): “Bom
Jesus do Norte não é fácil, existe uma cultura já enraizada,
principalmente nos últimos anos, governos que me antecederam
tumultuados, com afastamento de prefeito. Isso
fez um tumulto avantajado”.
Outra
declaração: “Pessoas (nos) procuram para auferir tipos de
vantagens que o município não tem condições de oferecer. Isso
causa um tipo de desgaste para algumas pessoas”.
Mais
uma: “(Quero, ou desejo) Pedir à população que se inteirasse do
conceito de coletividade, que procure a prefeitura, os órgãos
municipais, no intuito de podermos fazer as melhorias na cidade como
um todo. E que lembrasse sempre que quanto melhor o nível de
qualidade de vida das pessoas, todos no contexto saem ganhando. Não
adianta o poder público distribuir benesses, favores, para um
quantitativo pequeno de pessoas. Temos de alcançar o máximo
possível um maior número de pessoas atendidas pelo poder público”.
Digo
eu, agora: o grande
manancial gerador de problemas é o sistema político brasileiro, que
necessita de uma reforma ampla, geral e irrestrita, urgentemente há
muito tempo (termo
esquisito, mas
proposital).
E
este manancial gigantesco possui um setor preponderante que opera contra os interesses da pátria: o DPE (Departamento do Personalismo
Exacerbado).
Ali, carimbam-se as chamadas gestões de coalizão,
formam-se partidos sem princípios
ideológicos,
vazios de conteúdo programático, mas de olho nas tetas.
Voto
distrital (puro ou misto); redução, através da
fusão de agremiações partidárias; revogação do instituto da
reeleição no Poder Executivo, elevando para cinco anos os mandatos
de presidente, governadores, prefeitos; impedimento de troca de
legendas; clareza de convicções filosóficas, sociais e políticas
de cada partido; agilização do TSE nas pendengas eleitorais.
Isso,
a meu ver, conferiria
nova e moderna dinâmica ao sistema arcaico e
viciado que aí está.
As
coalizões referidas vão
“ao encontro” dos interesses pessoais e “de encontro” aos
interesses do país. Também
dá-se o nome
pragmatismo, palavra tão
em voga no Brasil de
hoje.
Pragmatismo
do mal, acrescento,
porque visa
ganhar tendo em vista projetos próprios, de
grupos ou grupelhos
em detrimento dos da
coletividade.
A
queixa de Ubaldo por ter
encontrado
dificuldades seria a costumeira que 10 entre 10 governantes que
sucedem a adversários políticos fazem, não fosse a ênfase.
Os
dois prefeitos que o antecederam no mesmo mandato, Dr. Adson Azevedo
Salim (afastado pela Justiça em meados do último ano de gestão –
2012) e Pedro Chaves, o vice que assumiu, foram ruins.
A
percepção que tenho é que o primeiro perdeu-se nos labirintos da
política por possuir
pouca
identificação com a mesma, nem sequer capacitado
para
arrostar
a necessidade
de acercar-se de pessoas confiáveis que tivessem alguma intimidade
com ela.
Qual
não deve ter sido a decepção de Adson Salim, acostumado com o
ambiente organizado, asséptico e racional da atividade privada, ao
deparar-se com a precariedade da pública. Embolou-se
no
meio de campo!
Já
Pedro Chaves, que
transita com
desenvoltura nessa
precariedade, homem
público experiente,
ex-vereador por três
mandatos, conhecedor dos
labirintos da política, enrolou-se
no modo afoito, fremente de tentar as ações.
Disposto
a realizar em seis meses o que não foi conseguido nos três anos e
meio anteriores, assumiu o risco de altíssima probabilidade em
comprometimento financeiro.
Esse
frenesi foi como um rolo
compressor a desintegrar o planejamento, a atropelar a planificação,
reduzindo
a escombros a capacidade de definir prioridades.
Creio
ser essa a tradução da
causa do “tumulto avantajado” referido pelo prefeito Ubaldo.
Se
houve da parte de Adson e de Chaves algum ato ilícito, algum
malfeito de natureza criminosa, “só falo nos autos”, para
replicar outro termo muito em voga na atual quadra
da vida pública
brasileira.
Depois
que os supostos autos transformarem-se em sentença transitada em
julgado, os comentários
do analista serão explícitos,
porém justos e
legítimos.
Mas
se a nova gestão tiver
informações fundamentadas em fatos, consubstanciadas em material
probatório, seria até um dever torná-las públicas para que sirvam
de alerta no futuro e dissipe completamente
a ilusão de quem, como eu, saudava os bons ventos das realizações
que a cidade tanto carece.
O
fato de ter encontrado tantos problemas pode ter estimulado o
prefeito Ubaldo a opinar sobre uma
grave disfunção
dos municípios brasileiros, principalmente os pequenos, que é o
assistencialismo desenfreado.
Emprego
público, que quando das campanhas políticas é insinuado e muitas
vezes prometido, é o mal necessário para se
conquistar o poder, segundo
preconiza o “DPE”.
Só
que dificultoso para os
municípios disponibilizarem, uma vez que, por obras
valerosas do aumento da expectativa de vida, e “desvalerosas” da
inflação e redução do emprego, a demanda é sempre crescente para
uma oferta decrescente, especialmente em lugares de pequena
arrecadação.
Pior:
com raras e honrosas
exceções, percebe-se que a maioria dos contratados para cargos em
comissão é despreparada, sem qualificação, que beneficia-se da
coisa pública sem dar-lhe a reciprocidade em serviços de qualidade.
Em Português claro, sem eufemismos, o
pedido
que Ubaldo faria à
população para esta se
inteirar do “conceito
de coletividade” é o
cidadão individualmente não pedir emprego para si ou para os seus,
mas interagir, cobrar, reclamar, exigir que o município invista em
políticas que possam gerar ocupação para todos, indistintamente;
Que
não reivindique egoisticamente
um tratamento de saúde,
um medicamento, uma
receita, mas que lute por um sistema público que atenda a todos de
maneira completa e eficaz;
Que
não peça material de construção, alguns
tijolos, cimento, telhas
para melhoria de sua morada individual, mas que
exerça a cidadania de forma
intensa, efetiva,
forçando o governante a disponibilizar casas populares dignas a
todas as famílias necessitadas.
Enfim,
o que cada cidadão
precisa é ter
mais consciência
coletiva, estar menos
centrado em seus próprios interesses e mais ao do conjunto da
sociedade, fortalecendo o ideário de auferir benfeitorias
sustentáveis, perenes,
renunciando
aos reclamos pontuais, aos agrados imediatistas, efêmeros.
Estarei
eu viajando pelo éter
das utopias? Pensem o que quiserem, mas apego-me como um náufrago à
deriva ao tronco da esperança que, dizem, é a última que morre.
Na
hipótese altamente improvável de um governante ganhar e mandar às
favas os compromissos assumidos em campanha, e agir com desassombro
instigado pela vontade hercúlea de romper velhos e perversos paradigmas, o
espaço sob sua jurisdição tornar-se-ia exemplo de modernidade, de
pujança e de justiça social.
E
não me venham com o papo da fidelidade a correligionários porque,
neste caso, trair alguns significaria ser leal com todos!
Autor: José Henrique Vaillant