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13 de jun. de 2013

A superficialidade nossa de cada dia nos dai hoje


O amável leitor e a graciosa leitora sabem certamente o significado da palavra “eufemismo”. Se não sabem, é um tipo de linguagem mais suave, agradável, que substitui outra considerada rude, desagradável. 

“Falto com a verdade”, é eufemismo de mentiroso, assim como ladrão é “apropriador de bens alheios”; e por aí afora.

O tal do “eufemismo” juntou-se com a má companhia do “politicamente correto” e desgraçou a sair distribuindo por aí nomenclaturas: negro deve ser chamado de “afrodescendente”; gay passou a ser “homoafetivo”; 


deficiente é “portador de necessidades especiais”; doméstica é “secretária, ou auxiliar de serviço do lar”; prostituta é “profissional do sexo”; faxineiro é “supervisor de higiene”; mendigo transformou-se em “vivente da caridade alheia”; 

“limitado” substitui incompetente; craque em algum esporte passou a ser “jogador diferenciado” (aqui, aliás, nem entendo, já que chamar um cara de craque não soa desagradável); “ele, calado, é um poeta!”, diz-se de alguém inoportuno, ignorante, enjoado; 

“interrupção da gravidez” no lugar de aborto; mãe solteira virou “chefe de família monoparental”; criança levada, desobediente, bagunceira, virou “hiperativa”; velho passou a ser cidadão da “terceira idade” ou, pior, da “melhor idade” (dose elefantina!) e coisa e tal.

Dia destes estava escrevendo uma matéria sobre um grupo de gestantes. Na programação, em meio a palestras e atividades integracionistas para aquelas pessoas simples, lá estava a expressão indefectível: tal hora, “coffee break”.

Coffee break, viram jovens senhoras, como vocês são chiques? Não, não. Pausa para o lanche, ou em tradução literal “para o café”, não pode.

Vocês, provavelmente, sentir-se-iam ofendidas se um burocrata qualquer as julgassem gente comum, que apenas lancha. Ao contrário, vocês “degustam”, com aquele gestual fino como o de esposas de lordes ingleses, um suculento “coffee” no decorrer da "break".

O problema aqui é que os burocratas são tão superficiais que,  ao enganarem-nas com as mesuras falsas como uma cédula de 3 Reais, esqueceram-se de ensinar-lhes a traduzir “coffee break”.

Pensando bem, esqueceram coisa nenhuma. É proposital. Sabendo traduzir, interpretar a informação, vocês saberiam também traduzir, interpretar que a única coisa que interessa a eles é o seu voto!

A fabricação de eufemismos também se faz em língua estrangeira, como o tal do coffee break! Mas há também o cara viciado em trabalho, antigamente denominado “caxias” (que já era um eufemismo), que passou a ser workaholic; diretor ou executivo de uma empresa, virou CEO (Chief Executive Officer), etc.

Falácia e sofisma são outras palavrinhas muito em voga. Traduzem embuste, logro, falsidade. E nossos políticos adoram! Pensando nisso, alguém com muita criatividade bolou uma tabelinha para facilitar a vida desses políticos, que não mais precisam queimar neurônios para falar bonito ao povão de olho rútilo e lábio trêmulo de emoção ao ouvi-los.



Basta a ele, político, escolher ao acaso uma frase da 1ª coluna, emendando com outra da 2ª, com outra da 3ª e outra da 4ª. Segundo o cara que bolou a tabela, são mais de 10.000 combinações de falas para um discurso belíssimo, embora vazio como os originados nas sinapses próprias.

Vejam como é simples: pensando nos nossos políticos aqui da região, eu peguei a 3ª frase da 1ª coluna; juntei com a 5ª da 2ª coluna; com a 6ª da 3ª e com a 7ª da 4ª. Olha que lindo discurso: “Não podemos esquecer que/o desenvolvimento de formas distintas de atuação/facilita a definição/das condições apropriadas para os negócios.

Se vocês me acusarem de estar pensando em “negócios” particulares, eu nego. Ene é gê ó – NEGO!

E quando eu “partir desta para melhor”, “comer capim pela raiz”, “esticar as canelas”, “vestir pijama de madeira”, “empacotar”, “morar na cidade dos pés juntos”, “bater as botas”, acrescentem este eufemismo: “foi denunciar a Camões o que estão fazendo com o Português”!

Autor: José Henrique Vaillant