O
amável leitor e a graciosa leitora sabem certamente o significado da palavra “eufemismo”. Se não sabem, é
um tipo de linguagem mais suave, agradável, que substitui outra
considerada rude, desagradável.
“Falto com a verdade”, é
eufemismo de mentiroso, assim como ladrão é “apropriador de bens
alheios”; e por aí afora.
O
tal do “eufemismo” juntou-se com a má companhia do
“politicamente correto” e desgraçou a sair distribuindo por aí
nomenclaturas: negro deve ser chamado de “afrodescendente”; gay
passou a ser “homoafetivo”;
deficiente é “portador de
necessidades especiais”; doméstica é “secretária, ou auxiliar
de
serviço do lar”; prostituta é “profissional do sexo”;
faxineiro é “supervisor de higiene”; mendigo transformou-se em
“vivente da caridade alheia”;
“limitado” substitui
incompetente; craque em
algum
esporte
passou a ser “jogador diferenciado” (aqui, aliás, nem entendo,
já que chamar um cara de craque não soa desagradável); “ele,
calado, é um poeta!”, diz-se de alguém inoportuno, ignorante,
enjoado;
“interrupção da gravidez” no lugar de aborto; mãe
solteira virou “chefe de família monoparental”; criança levada,
desobediente,
bagunceira,
virou “hiperativa”; velho passou a ser cidadão da “terceira
idade” ou, pior, da “melhor idade” (dose elefantina!) e coisa e
tal.
Dia
destes estava escrevendo uma matéria sobre um grupo de gestantes. Na
programação, em meio a palestras e atividades integracionistas para
aquelas pessoas simples, lá estava a
expressão indefectível:
tal hora, “coffee break”.
Coffee
break, viram jovens senhoras, como vocês são chiques? Não, não.
Pausa para o lanche, ou em tradução literal “para o café”, não
pode.
Vocês,
provavelmente, sentir-se-iam ofendidas se um burocrata qualquer as
julgassem gente comum, que apenas lancha. Ao contrário, vocês
“degustam”, com aquele gestual fino como o de esposas de lordes
ingleses, um suculento “coffee” no decorrer da "break".
O
problema aqui é que os burocratas são tão superficiais que, ao
enganarem-nas com as mesuras falsas como uma cédula de 3 Reais,
esqueceram-se de ensinar-lhes a traduzir “coffee break”.
Pensando
bem, esqueceram coisa nenhuma. É proposital. Sabendo traduzir,
interpretar a informação, vocês saberiam também traduzir,
interpretar que a única coisa que interessa a eles é o seu voto!
A
fabricação de eufemismos também
se faz em língua
estrangeira, como o tal do coffee break! Mas há também o cara
viciado em trabalho, antigamente denominado “caxias” (que já era
um eufemismo), que
passou a ser workaholic; diretor
ou executivo de uma empresa, virou CEO (Chief
Executive Officer), etc.
Falácia
e sofisma são outras palavrinhas muito em voga. Traduzem embuste,
logro, falsidade. E nossos políticos adoram! Pensando nisso, alguém
com muita criatividade bolou uma tabelinha para facilitar a vida
desses políticos, que não mais precisam queimar neurônios para
falar bonito ao povão de olho rútilo e lábio trêmulo de emoção
ao ouvi-los.
Basta
a ele, político,
escolher ao acaso uma frase da 1ª coluna, emendando com outra da 2ª,
com outra da 3ª e outra da 4ª. Segundo
o cara que bolou a tabela, são
mais de 10.000 combinações de falas para um
discurso belíssimo, embora vazio como os
originados nas sinapses
próprias.
Vejam
como é simples: pensando nos nossos políticos aqui da região, eu
peguei a 3ª frase da 1ª coluna; juntei com a 5ª da 2ª coluna; com
a 6ª da 3ª e com a 7ª da 4ª. Olha que lindo discurso: “Não
podemos esquecer que/o desenvolvimento de formas distintas de
atuação/facilita a definição/das condições apropriadas para os
negócios.
Se
vocês me acusarem de estar pensando em “negócios” particulares,
eu nego. Ene é gê ó – NEGO!
E
quando eu “partir desta para melhor”, “comer capim pela raiz”,
“esticar as canelas”, “vestir pijama de madeira”,
“empacotar”, “morar na cidade dos pés juntos”, “bater as
botas”, acrescentem este eufemismo: “foi
denunciar a Camões o que estão fazendo com o Português”!
Autor: José Henrique Vaillant